Como Viajar de Forma Sustentável

A crescente preocupação ambiental e a adaptação aos novos padrões de vida mudaram a forma de viajar. Há cada vez mais turistas que procuram fazê-lo de forma sustentável.

Nos dias de hoje, é fundamental adotar novas formas de viajar em prol da preservação ambiental. O turismo caminha a passos largos para a sustentabilidade.

Sustentabilidade em viagem é não só ter em conta as necessidades dos viajantes, mas também proteger o ambiente, a cultura e as tradições locais, em prol da região e dos seus habitantes. É imprescindível uma cooperação entre governos, empresas ligadas ao setor do turismo, viajantes e pessoas locais.

Todos somos capazes de pequenos gestos nas nossas viagens que contribuam para um turismo sustentável. Tudo começa por sermos conscientes e tentarmos minimizar o nosso impacto e a nossa pegada ecológica.

Eis algumas atitudes que nós viajantes podemos tentar, para viajarmos de forma sustentável:

Não deitar lixo na natureza

Isto deve ser regra básica para qualquer pessoa que queira viajar de forma sustentável. Lembre-se sempre ‘leave nothing but footprints’ ou, por outras palavras, não deixe nada para trás.

Quando visitamos um local, nunca é demais recordar que todos os resíduos que levamos são da nossa responsabilidade. Estejamos nós num parque natural, numa praia, nas montanhas, numa vila ou cidade, deixar lixo onde não se deve não é opção.

Se não existem pontos de recolha de lixo por perto, devemos levar os resíduos connosco e, quando possível, descartá-los nos sítios adequados. Se cada um de nós for responsável pelo lixo que produz, tudo fica mais fácil. Viajar de forma sustentável também é ter responsabilidade.

Um dos países mais verdes que visitei, neste contexto, foi Singapura. É impressionante a mentalidade das pessoas ali. Não se vê lixo no chão, mesmo que não haja caixotes por perto (o que é difícil). Por exemplo, os comerciantes são responsáveis não só pelo lixo produzido no interior do seu negócio, como devem manter limpo o espaço exterior: o passeio e a rua.

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O plástico é hoje um dos maiores poluidores.

É algo tão comum e banal, que as pessoas não veem isso como uma obrigação, mas como algo benéfico que estão a fazer em prol do meio ambiente e de todos os seres humanos.

Assim como não devemos deitar lixo para o chão, também não devemos recolher nada que possa prejudicar o ecossistema. Recolher plantas e animais não é viajar de forma sustentável, especialmente se se tratarem de espécies protegidas.

Ser consciente no ato de comprar

Uma grande parte dos viajantes, para não dizer todos, traz uma lembrança dos países que visita. Embora adquirir souvenirs ajude a economia, temos que ser conscientes no ato da compra.

Comprar sempre localmente e não em grandes lojas, valorizando os pequenos vendedores. Apostar sobretudo nos mercados locais e feiras, onde se pode encontrar grande variedade. Optar por produtos duradouros, com utilidade, como calçado, roupa ou equipamento que necessitamos.

O artesanato é um souvenir fantástico para levar para casa. Quem não adora peças únicas feitas de madeira ou materiais recicláveis?! E assim estamos também a evitar o plástico. Quando estava no Sudeste Asiático, explorei os mercados locais em busca de t-shirts produzidas localmente, ou seja, resultantes de pequenos negócios de família.

No Chatuchak market (Tailândia) encontramos todo tipo de artesanato de artistas locais.

Viajar de forma sustentável é também ser consciente em relação aos artigos que compramos. Por favor, resista à compra de artigos feitos com marfim ou corais – não vamos incentivar este tipo de comércio.

Não menos importante, é o facto de muitas crianças venderem pequenos artigos na rua. Esta é uma questão controversa: nem todos somos da mesma opinião. Mas, falando duma realidade que conheço, a do Sudeste Asiático, as crianças são muitas vezes vistas como fonte de rendimento pelas famílias.

Ao darmos dinheiro aos miúdos, a escola ficará em segundo plano por exemplo, uma vez que é mais rentável mantê-los na rua.

Em suma, é tudo uma questão de bom senso e procurar produtos que realmente necessitamos, ao invés de comprarmos indiscriminadamente. Afinal, as recordações de viagem estão nos nossos corações e não num simples objeto.

Contribuir para a economia local

É essencial contribuir, sempre que possível, para a economia local, seja através da compra de produtos artesanais, ou da preferência por negócios locais – lojas, hotéis, agências de viagem e restaurantes.

Se estivermos a utilizar serviços locais, estamos a ajudar a comunidade e a economia. Neste sentido, mais infraestruturas e postos de trabalho serão criados. Na maioria das vezes, é tão simples ajudar.

Algo a considerar poderá ser doar também uma pequena quantia para uma instituição local, uma escola, uma ONG, uma associação, entre outras. Se não quisermos fazer donativos em dinheiro, podemos doar algum do nosso tempo. Para o efeito, basta participar em ações que ajudem a comunidade, direta ou indiretamente.

Em alguns dos casos até é divertido. Por exemplo, na Tailândia (e outros países da Ásia) existe o Trash Hero, uma iniciativa que reúne a comunidade para limpar e reduzir o lixo, principalmente em praias. Com isto estamos a criar um impacto positivo na comunidade local. E a viajar de forma sustentável.

Diga não a atividades que compactuam com abusos a animais

Passeios no dorso de elefantes são um mau exemplo e põem em causa a vida do animal.

Cada vez mais este ponto deve ser uma preocupação para quem viaja de forma sustentável e não só. Parece trivial, mas sinto que há uma maior consciencialização neste sentido. Grandes companhias como a Tripadvisor deixaram de vender tours que pusessem em causa a vida animal.

Na verdade, estas atividades só existem porque ainda há pessoas que insistem em alimentá-las. Se todos virarmos as costas e optarmos por atividades responsáveis, esses negócios não vão perdurar.

Honestamente, não sei que felicidade pode trazer experiências como passeios nos dorsos dos animais, espetáculos, ou tirar fotos junto de animais selvagens. Não há vantagem nenhuma quer para o animal, quer para o turista.

Repudio qualquer atividade nesse sentido. Na maioria das vezes, os animais selvagens sofrem abusos, são separados ainda pequenos dos progenitores e até sedados para poderem estar perto dos humanos.

É verdadeiramente satisfatório observar animais selvagens no seu habitat. Ou conhecer projetos que realmente ajudam na preservação de espécies ameaçadas.

No caso da vida marinha, é fundamental não danificar o ecossistema. Ora, se vamos fazer mergulho ou snorkelling, ter o máximo de cuidado com os corais e não tocar nos animais. Por muito que seja tentador, alguns animais marinhos sofrem tanta tensão que podem morrer: é o caso das estrelas do mar.

Respeitar a cultura e costumes de cada local

Ser um viajante consciente é ser respeitador. Todos os países têm costumes e tradições diferentes e, enquanto viajantes, devemos ter isso em conta.

É importante refletir sobre as idiossincrasias culturais. Existem costumes e tradições que vemos nas culturas orientais que não estão presentes nas ocidentais, e vice-versa.

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É importante respeitar as diferenças religiosas e culturais.

Por exemplo, nos países asiáticos é muito comum as mulheres cobrirem os ombros e pernas para entrarem nos templos. Sempre que visitava um templo, respeitava esta regra. Em muitos deles, na entrada havia sarongs que podíamos utilizar, em troca de uma pequena doação.

A atitude certa é não fazer julgamentos precipitados, tentar perceber as diferenças e não ter comportamentos que possam chocar localmente. Afinal, se fosse no nosso próprio país, também gostaríamos que assim fosse. A aceitação das diferenças culturais pode ser desconfortável. No entanto, devemos lembrar-nos que nós é que somos os estrangeiros.

Levar bagagem prática e reduzida

Sejamos sinceros, para quê levar ‘a casa às costas’ se na realidade não necessitamos? É verdade que a maioria de nós, nas primeiras viagens que fez, levou bagagem excessiva.

Mas é tudo uma questão de adaptação. E as viagens ensinam-nos isso mesmo: a adaptarmo-nos. Viajar com menos pode ser mais. Ora vejam só alguns dos benefícios de reduzir a bagagem:

  • maior otimização do tempo de arrumação;
  • mais flexibilidade;
  • não iremos pagar excesso de bagagem;
  • se falta alguma coisa, podemos sempre comprar;
  • mais espaço.

Todos podemos ser minimalistas nas viagens, basta estarmos dispostos a isso. Viajar de forma sustentável é também um pouco isto, minimalismo e adaptação.

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Ser minimalista em viagem é uma questão de adaptação.

Costumo fazer uma lista do que irei levar. Incluo tudo: roupa, acessórios, equipamento… Desta maneira, quando fizer a mala tenho tudo organizado. Isto também ajuda a focarmo-nos no essencial, em vez de enfiar na mala tudo e mais alguma coisa.

Além disso, gosto muito de utilizar mochilas em vez das tradicionais malas, ainda que as use ocasionalmente na Europa. Ainda de realçar a praticabilidade de levar sempre os produtos de higiene de casa. Ultimamente, e com o intuito de viajar de forma sustentável, cada vez existem mais opções isentas de plástico.

As garrafas reutilizáveis são outra boa ideia para as viagens, pois permitem reduzir a quantidade de plástico comprado. Desafio-o a, numa próxima aventura, reduzir a quantidade de bagagem ao realmente essencial e a partilhar a experiência.

Procurar transportes alternativos

Viajar de forma sustentável combinando transportes alternativos pode ser difícil. Mas, não é impossível. Em certas situações, os transportes alternativos podem não ser os mais rápidos. Porém, estes permitem experiências que os transportes convencionais não proporcionam.

Uma viagem de avião ajuda ao aumento da emissão de poluentes. E sim, por vezes é inevitável. Por outro lado, as deslocações internas podem compensar isso. Para tal são importantes opções mais baratas e genuínas. Como:

  • transportes públicos;
  • bicicleta;
  • ir à boleia;
  • deslocação a pé.
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A bicicleta é um meio de transporte alternativo e ecológico.

De salientar que, na maioria das vezes, estamos a utilizar os mesmos meios que os habitantes. Assim sendo, é também uma oportunidade de contactar com a cultura local.

Explorar a gastronomia de cada país

Aventurar-se pela gastronomia de cada país é viajar de forma sustentável. Afinal todos precisamos alimentar-nos em viagem. Não há nada melhor que imergir na cultura de um país e desfrutar da cozinha local. O meio ambiente agradece, aproveitamos para experimentar iguarias e reduzir a pegada de carbono.

Comer onde os locais comem – faço disto máxima em todas as viagens. Na Ásia, por exemplo, a comida de rua é deliciosa, para além de barata. Ao comprar comida nas pequenas bancas, estamos também a ajudar os negócios locais. Os pequenos restaurantes tradicionais normalmente utilizam produtos do seu próprio cultivo.

Se optamos por cozinhar as nossas refeições, podemos sempre fazê-lo de maneira sustentável. Como?! Comprando os alimentos nos mercados locais. Para além de serem frescos, os produtores locais agradecem. Quem é que não gosta de um bom mercado local?

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Mercado local no Vietname.

Em muitas ilhas, um denominador comum é a pesca. Uma boa maneira de ajudar a economia local é fazer refeições em locais junto ao mar, onde seja possível saborear produtos frescos.

Há que considerar ainda o desperdício alimentar. Se a refeição é demasiado grande, podemos levar as sobras ou até mesmo dá-las a alguém. Em Bali aproveitei sempre o pequeno-almoço imenso que serviam, para guardar alguma coisa para o lanche. E no Vietname pedi para levar as sobras, em algumas ocasiões.

Não é vergonha nenhuma. Pelo contrário, estamos a ser conscientes e nada será desperdiçado. Portanto, não fiquem relutantes quando se trata deste assunto.

Fotografar com consciência

Isto é outro daqueles assuntos controversos. Quando falo de fotografar com consciência, engloba muito. Ninguém vai sair por aí a fotografar tudo e mais alguma coisa. É necessário respeito, acima de tudo.

Não é a primeira vez que vejo uma placa a dizer que é proibido fotografar e, ao meu lado, está alguém a fazê-lo. Já chamei várias vezes a atenção de turistas mais distraídos. Escusado será dizer que nem sempre resulta.

Fotografar é também ter peso e medida, especialmente quando se trata de pessoas. Se formos um pouco empáticos, reconhecemos que ninguém gosta de ver a sua cara estampada num sítio qualquer.

Não me interpretem mal, não estou a dizer que não se deve fotografar pessoas. No entanto, a fotografia é por si uma oportunidade de interação, de criação de laços. E sempre que possível, devemos pedir permissão para fotografar.

Escolher um hotel autêntico

Hillocks Hotel & Spa, no Cambodja é um bom exemplo de sustentabilidade.

Para grande parte das pessoas que viajam, a acomodação é fundamental. E na hora de escolher um hotel, preferem algo mais cómodo. O que acontece é que cada vez mais caminhamos no sentido da sustentabilidade. Isto é positivo em todos os sentidos. Grandes cadeias de hotéis optam agora por pequenas alterações, no sentido de se tornarem mais amigas do ambiente.

Eu continuo a preferir pequenos hotéis e guesthouses. Acabam por ser mais genuínos e estou a contribuir para a economia local. Muitos destes espaços são negócios familiares e, acreditem, não há nada melhor de que conhecer as histórias de vida por detrás de cada cara.

Adoro a proximidade das pessoas que isto me traz. Uma vez em Luang Prabang, no Laos, fiquei alojada numa pequena casa ao estilo colonial. Negócio familiar, passado já por várias gerações, com anfitriões extremamente simpáticos e disponíveis para ajudar. Senti-me em casa, fiz ali amigos. Tanto que prometi voltar um dia. Podia ter tido esta experiência numa grande cadeia hoteleira? Não, de maneira alguma.

Há tanto que podemos fazer quando procuramos alojamentos. Por exemplo, plataformas como o Ecobnb e o Book Different ajudam na procura de alojamentos sustentáveis.

Quer optemos por este tipo de acomodações, quer por grandes cadeias, podemos ter comportamentos que ajudem o meio ambiente, entre eles:

  • pedir para não trocarem as toalhas todos os dias;
  • levar os seus produtos de higiene;
  • separar o lixo (mesmo que o hotel não o faça);
  • apagar as luzes sempre que sair do quarto;
  • não deixar aparelhos ligados quando não está no quarto;
  • tomar banhos curtos;
  • fechar a torneira se está a lavar os dentes.

Vamos lá pôr em prática estes comportamentos. Sustentabilidade é uma questão de postura e respeito por tudo o que nos rodeia.

A aventura de viajar pelo mundo permite alcançar uma visão mais ampla, ir além do superficial. Em alguns casos, ajuda a formar novas conceções e mudar opiniões sobre determinados assuntos. Viajar é algo que nos transforma e molda quem somos e seremos.

Se queremos mesmo preservar os locais que visitamos, para que as gerações futuras possam contemplar o que hoje vemos, viajar de forma sustentável deve ser cada vez mais um propósito.

Afinal, não é nenhum bicho de sete cabeças, basta darmos o primeiro passo.

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Sandrina Ferreira
Sandrina Ferreira

Co-autora do blog de The Wise Travellers. Apaixonada por viagens e por escrita. Decidida a explorar o mundo de forma sustentável.

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