ABVP Travel Fest 2023: muita emoção!

Hoje é quarta-feira, mas a minha cabeça ainda está no fim-de semana – mais concretamente no evento extraordinário que foi o ABVP Travel Fest 2023. Quem esteve lá vai certamente compreender-me; quem não esteve… pois vai ter de ficar a lamber as feridas da oportunidade perdida e a roer as unhas de ansiedade pelo próximo (spoiler alert: vai ser mais cedo do que pensavam!).

© Marília Maia e Moura – Fotografia

A cidade

Este ano, o ABVP Travel Fest foi em Guimarães, no bonito, acolhedor e confortável Teatro Jordão. O apoio da Câmara Municipal foi imprescindível e eficiente, uma mais-valia para que tudo corresse tão bem como correu. A cidade estava em festa, e muito orgulhosa da recente integração da área de Couros no Património Mundial da UNESCO – são agora 38,4 os hectares classificados, quase o dobro da área inicialmente qualificada em 2001.

O ambiente

Na tarde de sexta-feira, dia 22, tivemos uma visita guiada pelo Paulo Cosme ao centro histórico de Guimarães e ao Paço dos Duques de Bragança, seguida de um lanche super apetitoso (e calórico, mas quem é que se preocupa com isso nestas alturas?) onde as vedetas foram o toucinho do céu (que é feito com gila e não tem nada a ver com o pudim a que dão o mesmo nome) e as tortas de Guimarães (de que fiquei absolutamente fã!). Tudo obviamente regado com um bom vinho.

O São Pedro foi muito cooperante e deu-nos um fim-de-semana com sol e temperaturas a tender para o Verão. Sol, uma cidade linda e muita animação – os melhores auspícios para o nosso evento.

Às nove e pouco da manhã de sábado já a fila de gente para o check-in no evento chegava ao passeio em frente ao teatro. Aos abraços e beijos dos que já se conheciam juntavam-se as apresentações dos amigos ainda mais ou menos “verdes” nestas andanças. A família vai aumentando de ano para ano, e é sempre uma alegria quando nos reencontramos. Despachadas rapidamente as formalidades de acesso ao evento – a nossa equipa de apoio é top! – o foyer foi-se enchendo de sorrisos e conversas animadas, que boa disposição é coisa que não falta à malta das viagens. O tempo para pôr a conversa em dia desde a última vez que nos vimos é sempre pouco, e isso fica bem patente na relutância em entrar logo na sala. Apetecia ficar ali só mais um bocadinho…

O Teatro Jordão é suficientemente grande para abrigar muita gente, e suficientemente pequeno para ser acolhedor. As cadeiras quase parecem sofás, a inclinação da plateia é q.b., e o palco é espaçoso, mas não tanto a ponto de um orador ficar “perdido” lá no meio. Os assentos foram-se enchendo, os espaços vazios cada vez mais raros, no final da apresentação de cada orador não faltaram palmas nem perguntas. A atmosfera de convívio informal foi uma constante.

Nos intervalos, o foyer generoso era quase pequeno para tanta gente, a fila para o café aumentava mais depressa do que o ritmo a que a máquina trabalhava, os dispensadores de água esvaziavam-se a velocidade supersónica e as garrafas reutilizáveis foram um sucesso, mais populares do que os copos de papel. Não sendo – por enquanto – possível organizar um evento 100% sustentável, foi feito um esforço para adotar boas práticas que minimizassem o impacto negativo sempre associado a estas ocasiões. A parceria com a CP, que resultou em descontos nos comboios regionais e inter-regionais, foi um dos passos nesse sentido.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

Os oradores

O que dizer dos oradores? As palavras não são suficientes para descrever tudo o que me (nos) fizeram sentir, por isso vou resumir-me a uma: OBRIGADA! Abriram-nos a sua alma e abriram-nos os olhos, fizeram-nos rir, e chorar, e até cantar. Fizeram-nos pensar e inspiraram-nos a seguir outros caminhos, ou a continuar no nosso ainda com mais motivação. Fizeram-nos querer mais. O meu mundo (agora só posso falar por mim) ficou melhor por os ter conhecido.

Cada um falou de temas diferentes, e cada um foi inspirador à sua maneira. São exemplos de audácia, de responsabilidade, de pioneirismo, de resistência, e a prova de que vale a pena tentar realizar os nossos sonhos.

DAVE & DEB (Canadá)| The Planet D

O tema da apresentação já diz tudo: “Unleash your passion: succeeding in the new era of travel blogging”. E foi com paixão e de forma muito comunicativa que este casal nos revelou que o segredo do seu sucesso é viajar com um propósito – descobrir porque é que viajamos é o primeiro passo para trilhar um caminho bem sucedido.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

JOSÉ SILVA PINTO (Angola) | Tonspi

Pelas palavras e fotografias do José ficámos a conhecer o seu trabalho e parte da sua vivência junto de algumas das tribos africanas que tem fotografado. Uma viagem contada na primeira pessoa, com muitos pormenores curiosos sobre as tribos que fotografou e com que conviveu, e mostrada com humildade, muito humor e a emoção genuína de quem encontrou um caminho que o leva não só aos outros, mas também, e sobretudo, a si próprio e a estreitar laços com o seu filho/companheiro de viagem.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

ARTUR CARVALHO (Portugal)

Quem não tem drone (é o meu caso) nem planos para trabalhar com um (também o meu caso, mas nunca digo desta água não beberei) poderia pensar que assistir a uma palestra sobre drones FPV – as iniciais de First Person View, drones revolucionários que permitem filmar como se estivéssemos nos olhos de um pássaro em voo – seria talvez vagamente aborrecido. Redondo engano! O Artur descreve-se como um “atleta visual”, e esta definição não podia estar mais correta. A sua apresentação, a que deu o nome de “Diário de uma gaivota”, foi entretenimento puro, objetiva e esclarecedora, e cheia de imagens maravilhosas. O que me provou, mais uma vez, a inutilidade de certas (minhas) ideias pré-concebidas.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

TYSON SADLER (EUA)

Jornalista e documentarista, Tyson Sadler não esteve ao vivo no Travel Fest mas enviou uma mensagem videogravada para introduzir a exibição do seu filme “The Last Tourist” – cujo expressivo subtítulo é “Travel has lost its way”. Um documentário duro, por vezes dilacerante, um verdadeiro abre-olhos para realidades mais comuns do que julgaríamos. Do excesso de turismo ao “volunturismo”, do abuso sobre os animais ao uso de crianças para atrair boas vontades que acabam por agravar problemas, dos impactos ambientais à destruição de comunidades vulneráveis, o filme foca pontos críticos da indústria do turismo, põe em causa o papel do turista moderno, e é motor para uma reflexão séria.

JANEK RUBEŠ (República Checa)| Honest Guide

É impossível não ficar fã deste checo divertido que brinca com tudo e todos, a começar por ele mesmo e pelo nome da sua apresentação: “The anti-touristic YouTube channel” – em que, note-se, passou uma boa parte do tempo a falar de certos locais em Praga que se tornaram quase “invisitáveis” depois de ele próprio os ter divulgado. O que prova que às vezes fazemos mais mal do que bem, mesmo involuntariamente. Por outro lado, mostrou que podemos usar a imaginação para fins mais altruístas, como angariar fundos para repor um sino de igreja há muito desaparecido, ou semear relva num local tornado “careca” pelo excesso de turistas. Com a simplicidade de quem nunca se leva a sério.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

ARTURO LÓPEZ ILLANA (Espanha)

Com uma postura reservada durante a visita guiada de sexta-feira, em palco o Arturo transformou-se num comunicador simultaneamente descontraído e suscitador de emoções. Descontraído na clareza das palavras, emocionante nas suas fotografias projetadas em pano de fundo e nas descrições que delas fez. Foi de “Fotografia de viagem: tradições” que nos falou, mas mostrou-nos muito mais: histórias verdadeiras de injustiça e sofrimento, da realidade por trás de aparências de beleza, de tradições que por vezes escravizam quem não consegue renegá-las. Fotografias maravilhosas que nos deixam um nó na garganta quando conhecemos as histórias por trás delas.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

GUILHERME CANEVER (Brasil) | Saí por aí

Descobriu a Somalilândia por acaso, e a curiosidade levou-o a querer conhecer várias outras regiões do mundo que não são oficialmente reconhecidas como países – uma delas, Nagorno-Karabakh, disputada pelo Azerbaijão e pela Arménia, tem estado recentemente em foco nas notícias diárias. A sua “Viagem pelos países que não existem” deu origem a um livro e à apresentação bem-humorada e super interessante que trouxe ao Travel Fest.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

DAVID FREITAS (Portugal) | Ambulance for Hearts

Creio que não exagero se disser que o David tocou o coração de toda a gente que assistiu à sua apresentação no Travel Fest. Ao ouvi-lo, ri, chorei de comoção, voltei a rir, e chorei novamente, desta vez de tanto rir. E cantei – uma pirosada romena e Marco Paulo, imagine-se! Eu e toda a gente, com palmas a acompanhar. É este o poder que o David consegue ter sobre um teatro cheio de adultos, bastando-lhe para isso subir ao palco com o seu ukelele, contar-nos com a maior genuinidade as suas aventuras e desventuras na viagem que fez até à Casa da Mamé Ussai, um orfanato em Catió, na Guiné, a bordo de uma carrinha carregada de leite em pó e uma incubadora, e mostrar algumas fotografias tiradas com as pessoas que encontrou no caminho e lhe ficaram no coração – mesmo que algumas já não estejam hoje neste mundo. Emocionou-se, emocionou-nos e mostrou que qualquer um de nós pode fazer a diferença e tornar o mundo “Um pouco melhor”. Basta querer, e meter pés (ou rodas) ao caminho.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

JOANNA HAUGEN (EUA) | Rooted

“Once upon a travel story: Are you the problema or the solution?” é a pergunta que a JoAnna nos fez. Uma vez mais, a indústria do turismo e o nosso papel como viajantes e/ou criadores de conteúdos de viagens foram chamados à ribalta. O turismo coloca problemas a vários níveis, e tanto podemos contribuir para os agravar, como tentar ser viajantes e contadores de histórias mais conscientes. A opção é nossa. Se escolhermos fazer parte da solução, há formas de conseguir que o nosso impacto seja positivo, e algumas das sugestões propostas pela JoAnna facilmente exequíveis. Foi mais uma apresentação que nos deu muito em que pensar.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

JOSÉ LUÍS PEIXOTO (Portugal)

Dispensa apresentações e era uma das presenças mais aguardadas no Travel Fest, sobretudo por quem gosta de palavras escritas, seja de as ler ou de as escrever. Além disso, José Luís Peixoto tem também feito muitas incursões na escrita de viagens, em crónicas e livros, o que é um motivo suplementar de interesse para nós. E se as expetativas eram altas, elas não foram desiludidas. Sem pretensiosismos e num registo muito informal e até divertido, abordou vários tópicos que considera importantes para quem se dedica (ou quer dedicar-se) à escrita de viagens: o caderno de apontamentos como auxiliar da memória; os estereótipos e como fugir deles; a importância da palavra, da escolha criteriosa e da síntese dos temas, e de refletir sobre o que vimos e queremos dizer; estratégias para quando a inspiração anda fugidia. Fiquei com vontade de pegar no caderno do Travel Fest que me tinham dado à entrada e começar a escrever o que me viesse à cabeça.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

TORBJØRN PEDERSEN / THOR (Dinamarca) | Once Upon a Saga

Dez anos e 320 mil quilómetros percorridos (quase a distância da Terra à Lua) para visitar 203 países sem nunca pôr os pés num avião: se isto não é uma aventura realmente épica, pelos parâmetros do século XXI, não sei o que será. Um feito de que ele ficará na história como pioneiro (será que alguém mais terá essa coragem?), tão duro que quase o levou a desistir mais do que uma vez, tão transformador que o levou a sair da sua concha e a confiar mais nos outros. Foi de coração aberto que nos contou histórias de dificuldades que encontrou, emocionais ou logísticas, e de momentos felizes que viveu. Um carrossel que incluiu problemas causados pelas burocracias e pela corrupção, por guerras e crises políticas, por alterações climáticas e – pois claro! – por uma pandemia que o obrigou a permanecer dois anos em Hong Kong. Uma história de persistência e superação. Ou, por outras palavras, uma verdadeira saga dos tempos modernos. Admirável!

© Marília Maia e Moura – Fotografia

Os patrocinadores e apoiantes

Além do patrocínio institucional – e inestimável – da Câmara Municipal de Guimarães, no ABVP Travel Fest de 2023 pudemos também contar com os patrocinadores já habituais destes nossos eventos, a IATI Seguros e a Sony Portugal, e com o também importante apoio da Bicafé e da CP (que já referi acima).

O ABVP Travel Fest 2024

Hoje, Dia Mundial do Turismo, a boa novidade é que o evento do próximo ano já está marcado. Vai ser no fim-de-semana de 11 e 12 de Maio, também em Guimarães. Em equipa que ganha não se mexe, e vamos fazer os possíveis para que o ABVP Travel Fest de 2024 seja tão bom ou melhor do que este. Melhor novidade ainda é o facto de os bilhetes já estarem à venda, e a preço especialíssimo até dia 30 de Setembro. Por isso, não percam esta oportunidade! O link para a compra de bilhetes é este: https://www.abvp.pt/event/abvp-travel-fest-2024/.

© Marília Maia e Moura – Fotografia

Vemo-nos para o ano?

© Marília Maia e Moura – Fotografia
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Ana C. Borges
Ana C. Borges

Gosta de passeios longos e conversas intermináveis, de ver o que ainda não conhece e rever os lugares do coração. Fotografa para memória futura. Escreve porque lhe sabem bem as palavras. Viaja por paixão – e porque o mundo é demasiado grande para ficarmos quietos. É autora do blogue Viajar porque sim.

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