Viajar de bicicleta, só por si, já é uma forma de viajar diferente daquilo a que chamamos de “normal”. Aqui por casa somos dois adultos, duas crianças com 5 e 8 anos, e mais uma a caminho, e o normal sempre foi viajar em autonomia, com o nosso carro, em comunhão com a natureza, ao sabor do vento (apesar do número de dias ser sempre controlado pelas férias, infelizmente).
As viagens de bicicleta surgiram na nossa família em 2021, quando o Miguel fez seis anos e lhe oferecemos uma bicicleta com mudanças. O facto de ele se adaptar muito bem e revelar uma boa capacidade e gosto por este meio de transporte fez com que a ideia de podermos viajar em família e de bicicleta começasse a ganhar forma.
As vantagens de viajar de bicicleta em família
As viagens de bicicleta requerem bastante planeamento, quer a nível de percursos, quer a nível de logística e preparação do material. Se me perguntarem se dá trabalho? Dá pois… mas também me dá muitas outras coisas! Dá-me a oportunidade de viajar devagar, de saborear o caminho, de sentir a chuva e o vento, de me ajudar a ultrapassar limites, de conviver com locais em sítios onde se calhar não contaria com isso; dá-me por vezes vontade de desistir, pela dificuldade, mas logo a seguir dá-me força e perseverança para agarrar o caminho novamente! Tudo coisas que me fazem relembrar a paisagem com mais exatidão, de uma forma mais genuína e mais crua, que marcam a viagem e os momentos de uma forma mais poderosa.
Os desafios de viajar de bicicleta em família
Nas viagens de bicicleta com crianças há algumas diferenças e algumas adaptações necessárias. No nosso ver, é crucial que os caminhos sejam na sua maioria fora de estrada. Pedalar na estrada com miúdos é bastante perigoso e havendo soluções não há necessidade de correr riscos. Quando estamos em caminhos de terra, se os miúdos estiverem cansados podemos parar, se a subida for difícil podemos sair da bicicleta e ir à mão, não há a pressão de termos mesmo de pedalar e não podermos parar, o que é sempre difícil de explicar aos miúdos. Para além de que a paisagem é muito mais bonita quando nos embrenhamos pela natureza nos caminhos de terra, do que quando seguimos pela estrada.
São viagens que exigem um pouco mais de pormenor no planeamento, pela necessidade de termos vários planos, várias hipóteses de caminhos por algum imprevisto que surja.
Temos de levar mais roupa e mais comida, uma tenda maior, mais sacos-cama e mais colchões, isso é algo óbvio.
Mas onde reside a maior diferença é sem dúvida nos níveis de paciência e no facto de termos de conseguir gerir muito bem o cansaço psicológico. Nem sempre tudo corre bem em casa, e numa viagem é igual. O que eles fazem de mais apelativo em casa, vão fazê-lo também na viagem. Cabe aos pais conseguirem gerir essas situações.
A progressão numa viagem de bicicleta com miúdos é bastante soft, e eles nunca se cansam. Quando as crianças dizem que estão cansadas, é o cansaço psicológico e não o físico. E é esse cansaço que temos de saber controlar. Com jogos, com brincadeiras, com pausas, com snacks de que eles gostam, com conversas. Depende do momento.
Gerir as expectativas
Quando viajamos de bicicleta com os miúdos não podemos dizer “hoje ao fim do dia vou chegar ali”, porque não fazemos a mínima ideia de como vai correr o dia. Já sem miúdos pode haver um furo ou outro problema na bicicleta, quanto mais com miúdos, em que a existência de uma subida mais puxada ou um momento de maior frustração para eles pode significar uma hora de pausa, por exemplo, o que inviabiliza a chegada ao tal local. Não pode haver grandes expectativas ao nível de quanto vamos pedalar num dia.
Perguntam-nos muitas vezes se os miúdos não levam brinquedos nas nossas aventuras. Normalmente levam um livro cada um, um peluche e um boneco rijo (um animal costuma ser a escolha). E depois durante o passeio brincam com as pedras, com os sapatos, as rochas servem de cavalos, fazem casinhas com os paus, enfim… a imaginação deles é bastante trabalhada nas viagens que fazemos.
Em jeito de conclusão
As viagens de bicicleta com miúdos são exigentes psicologicamente, requerem uma maior preparação a nível de percursos e opções, mas são sempre, sem exceção, momentos em família maravilhosos. Resultam sempre em memórias boas para os miúdos, há uma ligação entre todos, desde a montagem das tendas, às pausas nas praias, à preparação das refeições, por exemplo. E há efetivamente tempo de sermos uns para os outros, para estarmos, para conversarmos, para brincarmos, sem distrações. São momentos únicos em família!