Passei o último domingo, 2 de junho, um dia de sol e calor, dentro de uma sala com lotação esgotada, no Palácio da Bolsa. E dei o meu tempo por muito bem empregado. Fui assistir ao 1º Encontro de Bloggers de Viagem da ABVP.
A recém-criada Associação de Bloggers de Viagem Portugueses nasceu para “promover o desenvolvimento profissional dos bloggers que atuam no segmento de turismo, ao mesmo tempo que estimula a criação de relações éticas e transparentes com os leitores e com eventuais parceiros ligados ao turismo“, como se pode ler no site da ABVP.
Eu gosto de contar o que me vai acontecendo em viagem, mas não é minha intenção, nem nunca foi, ter um blog de viagens. No entanto, acompanho vários blogs de viajantes que me inspiram e despertam a minha curiosidade para o que não conheço por esse mundo fora. Vai daí, não resisti a ir até ao Porto para estar presente neste Encontro e conhecer pessoalmente alguns bloggers que só conhecia no mundo digital.
Sou muito fã deste pessoal blogger de viagens. São gente boa onda, com espírito aberto, simpática, generosa na passagem de conhecimentos aos mais novos, preocupada com a sustentabilidade do turismo e com as questões ambientais.
Nesta primeira reunião estavam presentes os mais veteranos e os principiantes, ouviu-se falar “brasileiro”, “peruano”, “irlandês”, português, mas todos com um denominador comum: o gosto por viajar e por partilhar experiências.
Seja sob a forma de textos, de fotos ou de vídeos. Há quem faça do blog profissão e há quem crie conteúdos só porque gosta; há quem procure ter retorno financeiro e há quem nem pense nisso. Nestes encontros há espaço para todos os que se preocupam com a qualidade da escrita e das imagens e que atuam com ética e bons princípios.
Oradores internacionais no 1º Encontro
Os primeiros oradores da manhã foram o Leo e a Rachel Spencer (do blog Viajo Logo Existo), que nos contaram sobre o seu sonho de dar uma volta ao mundo de carro, como deixaram os respetivos empregos em São Paulo e se lançaram numa aventura que acabou por durar 43 meses e lhes mudou a vida para sempre.
Partilharam connosco algumas histórias das pessoas extraordinárias que conheceram on the road, de como fizeram amigos para a vida, das difíceis despedidas que acabaram por ir vivendo, das ajudas inesperadas que tiveram em momentos mais difíceis do percurso, dos contratempos que acabam sempre por surgir. Foi mesmo muito inspirador ouvir a história deste casal brasileiro.
Após uma pequena pausa para um café, ficámos a conhecer um bocadinho da vida do fotógrafo freelancer irlandês Conor MacNeill (@thefella), de como começou a fotografar e de como fez disso a sua profissão. Fotografa destinos e paisagens e tem fotos brutais.
Falou-nos de como fica por vezes dividido entre divulgar as coordenadas de determinado local, lindo e selvagem, com medo das ondas de overturismo que essas divulgações provocam. Mas, quando quem o contrata é exatamente o Turismo de um determinado país, acaba por ter de divulgar, porque a intenção é promover o destino em questão.
Também nos falou dos princípios que o orientam e de como recusa trabalhos por não se identificar com a mensagem que vai ser transmitida. E explicou que o produto final implica muito mais horas de dedicação e esforço do que apenas escolher uma paisagem bonita e fotografá-la.
Escrever sobre viagens em Portugal
Uma boa conselheira para os bloggers mais jovens foi a oradora seguinte: Sandra Silva Costa, editora da Fugas (a revista de viagens do jornal Público). A Sandra deu dicas bastante concretas e exemplos reais a quem gostaria de ver os seus trabalhos publicados em revistas do tema. Quais as preocupações que devem ter; que regras devem cumprir; o que tem mais procura e aceitação no mercado atual.
Explicou que, por um lado, as redes sociais e as plataformas digitais vieram facilitar a divulgação mas, por outro lado, aumentaram exponencialmente a oferta e a superficialidade com que se tratam os assuntos. Deu algumas sugestões de abordagens a quem se quer destacar no meio, como por exemplo encontrar um nicho menos explorado, ou dar rostos às histórias, e mostrar tanto o lado positivo como o lado negativo do destino em questão. E, principalmente, ter uma escrita cuidada e de qualidade.
Seguiu-se o almoço. Comi rapidamente para ter algum tempo livre, passear pela zona da Ribeira e aproveitar um bocadinho o dia de sol. A Ribeira do Porto parece a Baixa de Lisboa: são tantos os turistas que quase não se ouve falar uma palavra em português.
O primeiro orador da tarde foi o Filipe Morato Gomes (do Alma de Viajante). Coube-lhe a tarefa de dar sugestões, baseadas no seu vasto conhecimento da matéria, sobre como rentabilizar um blog de viagens.
Principalmente para quem tem vontade de fazer do blog a sua profissão, falou do “lento caminho para o sucesso”, que passa muito por ser honesto e verdadeiro no que se partilha no blog, de maneira a ganhar credibilidade junto dos leitores e assim ir criando uma comunidade de seguidores.
Também falou de rendimentos ativos, que podem passar por, por exemplo, publicar em revistas de viagens, ou organizar tours guiados na sua própria cidade; e de rendimentos passivos, tais como publicidade no blog ou programas de afiliados, só para referir dois exemplos.
Por último, partilhou o que, na sua opinião, nunca se deve fazer. Coisas como vender links ou incluir no blog posts escritos por agências de marketing. E para os mais novos deixou a mensagem: “o maior compromisso de um blogger é para com os seus leitores, não é para com os patrocinadores”. Isto se quiserem manter a tal credibilidade que demora muito tempo a construir mas que se pode destruir num instante.
Peruna e português encerram o encontro
Depois dos sábios conselhos do Filipe foi a vez da peruana Analucía Rodriguez (do blog Viajar para Vivir) nos contar o seu percurso de vida, que a transformou em Nómada Digital.
Deixou uma carreira corporativa de Marketing, em Lima, e tirou um ano sabático para ir dar uma volta ao mundo sozinha. Mas afinal já passaram 5 anos, conta com 60 países percorridos, atualmente tem base temporária em Madrid, e nem lhe passa pela cabeça voltar a viver no seu país.
Uma história de vida também bastante inspiradora. Segundo a sua lógica, “devemos optar por fazer coisas que nos façam felizes e em que nos sintamos confortáveis”.
Finalmente, depois do coffee break da tarde, o João Cajuda (do blog homónimo) deu-nos a conhecer o maravilhoso mundo dos vídeos de viagem. Vídeos super-apelativos, que nos transportam automaticamente para o destino em questão.
O João veio parar a este mundo das viagens por puro acaso. Fez um vídeo de Marrocos numa viagem com amigos e publicou-o no Youtube. O vídeo foi visto pelo João Leitão (do blog João Leitão Viagens) que lhe encomendou um vídeo promocional sobre o hotel Dar Rita em Ouarzazate.
Foi quando lhe “caiu a ficha” e o Cajuda percebeu que podia fazer daquilo vida. Aproveitou para explicar o que é necessário para se ser um travel videographer e ainda teve tempo para partilhar dois vídeos, de Marrocos e da Tailândia, e para esclarecer as muitas dúvidas que este pessoal bloggeiro tem sobre esta matéria.
A última apresentação do dia (já eu estava preocupada com o horário do Alfa que tinha que apanhar) permitiu-nos conhecer a fantástica equipa fundadora da ABVP. Tudo malta cinco estrelas que eu adorei conhecer pessoalmente. São eles o Filipe Morato Gomes, o Rui Barbosa Batista, a Catarina Leonardo, a Carla Mota, a Ruthia Portelinha, o Pedro Henriques, o João Leitão, a Marlene Marques e a Sofia Machado (a única que não estava presente fisicamente, porque vive na Austrália).
Se algum de vocês tem, ou está a pensar criar um blog de viagens, acreditem que é uma boa ideia fazerem parte da ABVP (juro que não recebo nenhuma comissão de angariadora). Quem sabe se não nos encontramos por lá no próximo Encontro.
** Escrito pela Ana Narciso, na sua viagem de regresso a casa, depois de um fim de semana na Cidade Invicta.
