O sucesso de um blog de viagens depende, em grande parte, da qualidade dos conteúdos que publica: texto, fotografia, vídeo. Já a qualidade do texto está diretamente ligada ao uso da língua.
Se alguém pretende manter um blog, de viagens ou relacionado com qualquer outro tema, tem que escrever. Independentemente se gosta de gramática ou se odiou o professor de português e, por isso, não sabe onde colocar uma vírgula.
Já aqui se destacou a importância de usar bom português para credibilizar o nosso trabalho – Escrita: quanto valem 1000 emoções? – e que o massacre linguístico pode tornar um blog pouco atrativo para as marcas. Com isto não estou a menosprezar todo o trabalho de SEO que interfere com o ranqueamento de um blog nos motores de busca. A verdade é que sem conteúdo não há blog, audiências ou monetização.
A escrita pode aperfeiçoar-se. Se sente que precisa melhorar a gramática, invista tempo nisso. Leia muito: bons livros e revistas, blogs de viagem de qualidade. Escreva mais, se possível diariamente. Diversifique o vocabulário: há milhares de adjetivos no dicionário, não é preciso cair em lugares-comuns.
A única coisa que temos de respeitar, porque ela nos une, é a língua. (Franz Kafka)
Quando acaba de escrever um post, leia, releia, edite, corte, altere, simplifique. Se possível, dê o texto a ler a alguém. Às vezes, lemos apenas aquilo que pensamos que escrevemos. Erros ortográficos recorrentes (como há de existir sem h), ou uma grande quantidade de gralhas, dão uma impressão de falta de profissionalismo e interesse.
Obviamente, todos erramos, num momento ou noutro. Porque estamos cansados, distraídos ou porque o Novo Acordo Ortográfico nos dá um nó no cérebro. Mesmo alguém que, como eu, faz revisão de texto a título profissional, nem sempre vê as suas próprias gralhas. A boa notícia é que há ferramentas que podem ajudar. Sim, estou a falar de corretores gramaticais.
Na verdade, as melhores ferramentas de verificação gramatical foram criadas para a língua inglesa. É o caso do Grammarly e da Hemingway App, que permitem encontrar erros ortográficos e gramaticais, evitar voz passiva e identificar outros erros menos comuns.
Uma das grandes vantagens do Grammarly, por exemplo, é oferecer uma extensão do Chrome gratuita, que revê o texto e sugere edições no navegador, nomeadamente quando se está a usar o WordPress. Já a Hemingway App tem uma versão online gratuita e um aplicativo para desktop a um preço razoável.
As ferramentas de verificação gramatical que funcionam com a língua de Camões ainda são escassas. Testei algumas delas com um excerto de um post pessoal, para avaliar as respetivas vantagens e desvantagens.
Ferramentas de verificação gramatical em português
O LanguageTool é um programa livre para verificação gramatical em mais de 20 idiomas, incluindo em português. A versão gratuita é suficiente para grande parte dos utilizadores, já que inclui a maioria dos recursos padrão, mas está limitada a 20 mil caracteres por correção. Ou seja, alguns artigos mais longos terão de ser revistos por partes.
A grande vantagem desta ferramenta são as descrições que fornece e que permitem melhorar o texto. No trecho considerado, para além de assinalar as palavras não conformes ao Novo Acordo Ortográfico, salientou que o “mas” só deve ser usado no início da frase com moderação, para um efeito dramático. Concordo e mantenho a minha opção.
O LanguageTool pareceu-me uma ferramenta eficaz. Para além disso, permite instalar uma extensão do Chrome para corrigir o que é escrito no WordPress, Gmail e outros aplicativos (que não testei).
O Flip é um corretor ortográfico e sintático, com possibilidade de adaptação ao Acordo Ortográfico. Existe uma versão gratuita, online, que permite revisões em português (de Portugal e do Brasil) e espanhol, com opção de escolha entre “discurso formal”, “corrente” ou “informal”. Mas esta versão de demonstração não possui todas as funcionalidades e limita a revisão a 3000 caracteres. Utilizando esta ferramenta, obtive o resultado abaixo.
No caso de “concelho”, usado corretamente por se tratar de uma localidade, está assinalado como um possível erro sintático, sugerindo que talvez quiséssemos escrever “conselho”. Não Flip, se os conselhos fossem bons, vendiam-se (lá diz o ditado popular). A mesma coisa com “sede” – questiona se não queremos escrever “cede”. Entendo que sejam erros comuns, pelo que as sugestões não me incomodam e passo adiante.
Apesar de assinalar outros erros (possivelmente por estarem escritos sob o antigo acordo), não apresenta sugestões de correção em nenhum dos casos. E, o que é mais grave, identifica a numeração romana como um erro. Como será que sugere que se assinale os séculos?
Testei ainda o Plagiarisma, uma ferramenta online de verificação de gramática e léxico, para mais de uma dúzia de idiomas, incluindo o português, de Portugal e do Brasil. O resultado foi desastroso, já que a ferramenta não reconhece os acentos, cedilhas e outros caracteres especiais, transformando a palavra. Para além disso, não fornece sugestões de correção. Não recomendo, de todo, pelo que nem pesquisei mais informação sobre ela.
Por fim, utilizei a ferramenta Correcao.pt, igualmente online, para verificação linguística em português de Portugal ou do Brasil. Este corretor não identifica apenas os erros ortográficos, mas também alguns erros gramaticais e estilísticos básicos, para além de fornecer sugestões de melhorias.
Identificou todas as palavras não conformes ao Novo Acordo Ortográfico (a verde) e também erros (a vermelho) como “condestável”, que devia estar escrito com caixa alta. Achei a maioria das suas sugestões completas e acertadas, nomeadamente as estilísticas, apesar de não compreender a função hiperbólica da palavra “estratosférica”.
Das ferramentas analisadas, as mais eficazes e com sugestões mais úteis são o LanguageTool e o Correcao.pt. Para a mera verificação de conformidade de uma palavra ou expressão ao Novo Acordo Ortográfico, recomendo ainda o Conversor Infopedia da Porto Editora.
Evidentemente, nenhum computador é capaz de traduzir todas as subtilezas da linguagem humana. Não é capaz de detetar a ironia, jogos de palavras e efeitos dramáticos que, por vezes, nos “obrigam” a subverter as regras sintáticas (sem exageros, só um génio literário como Saramago pode cilindrar as regras de pontuação). Ou seja, os corretores gramaticais são apenas… ferramentas. Permitem melhorar textos, identificar gralhas e diversificar o discurso, mas não substituem o cérebro e a vontade humana.
Apesar de todos os cuidados, acredite que haverá sempre uma gralha detetada por um leitor. Nesse caso, agradeça a cortesia e altere de imediato. Porque um texto cuidado é o reflexo certo que queremos para o nosso blog.