Mil e uma maneiras de escrever sobre viagens

Ter um blog de viagens permite-nos uma liberdade de escrita que nenhum outro meio nos dá. Escrevemos o que queremos, quando queremos (ou podemos) e, sobretudo, da forma que queremos.

Não estamos espartilhados pelo número de caracteres, linhas editoriais ou temas impostos, nem por formatos pré-concebidos ou tipos específicos de texto. Melhor ainda, podemos variar a forma como escrevemos a nosso bel-prazer, adequar a escrita ao nosso humor do momento, usar a criatividade para fazermos experiências e tentarmos novas formas de comunicação.

Apesar de toda esta liberdade, é óbvio que não escrevemos só para agradar a nós próprios. Como qualquer pessoa que escreve, um blogger de viagens quer sobretudo que os seus textos agradem a quem os lê e sejam uma fonte de inspiração – neste caso, para viajar.

É por isso que um dos nossos cuidados deverá ser encontrar um estilo próprio de escrita e um público a quem ele se adeque, tanto quanto ao tipo de conteúdo, como quanto à forma como passamos a informação.

Definir o conteúdo de um texto

Quer o nosso blog de viagens seja generalista, quer se destine a um nicho específico, há sempre vários tipos de conteúdos possíveis.

• Destino específico

A ideia é dar a quem lê o máximo de informação possível sobre um determinado local ou região: história, factos de interesse, património cultural e paisagístico, spots mais em voga…  Enfim, tudo o que o leitor pode querer saber para visitar o destino. Uma mais-valia será incluir curiosidades e “segredos” pouco ou nada conhecidos.

O objetivo maior, aquele em que podemos marcar a diferença? Conseguirmos criar no leitor a vontade de ir lá, a sensação de que “tem de” ir conhecê-lo.

• Período temporal limitado

São os artigos do tipo “24 horas em Paris” ou “Um fim de semana na Serra da Estrela”. Dão ideias específicas sobre o que é possível ou aconselhável fazer num determinado período de tempo, ou qual a melhor maneira de aproveitar esse tempo naquele destino.

Importa ser realista, evitando falar de milhentas coisas que, na prática, o leitor não vai poder fazer ou ver durante a sua estadia. Ou seja, é preciso selecionar bem as sugestões, de forma a construir um programa que seja interessante para quem o quiser pôr em prática. Além de interessante, o programa não deve ser demasiado óbvio – esses são para os operadores de viagem.

tipos de escrita

• Grupo de sugestões sobre um tema

Facilmente reconhecíveis e muito populares entre os bloggers, os round-ups são fáceis, rápidos de ler, e sempre uma boa aposta quando não há muito tempo para dedicar à escrita ou a inspiração anda fugidia. Artigos com títulos como “Os melhores restaurantes vegetarianos em Madrid” ou “10 praias no Brasil a não perder” garantem atenção imediata, sobretudo se complementados com belas fotografias.

Mesmo que a informação que se dá sobre cada local não seja muita, estes textos são sempre úteis para quem está a pensar visitar o destino ou destinos em questão. O segredo para que o post se destaque entre os muitos já publicados sobre o mesmo tema? Tentar ser original e dar informações práticas: por exemplo, coordenadas geográficas, horários, preços, etc.

• Épocas festivas, eventos

Quer o post seja escrito antes ou depois do acontecimento, ocasiões especiais e festividades são geralmente um tema popular e bem acolhido pelos leitores. Afinal, quem é que não gosta de se divertir? Aqui a chave é conseguir fazer com que quem lê se sinta quase como se lá estivesse: os sons, os cheiros, as cores, a temperatura do ambiente… Todos os pormenores são importantes, como importante é que quem escreve transmita, de forma “palpável”, o que sentiu durante a experiência.

• Interesses especiais

Em vez de abordar exaustivamente um destino, é possível focar apenas um tema específico. Pode falar-se, por exemplo, sobre a comida, os melhores lugares para fazer compras, os bares mais trendy, os museus ou jardins, os programas de voluntariado, enfim, sobre qualquer assunto que possa ser útil e/ou interessante dissecar com maior pormenor. Contudo, é de evitar “massacrar” o leitor com textos demasiado maçudos ou monótonos – quanto mais imaginativa for a apresentação do conteúdo, mais fácil será manter o interesse de quem está a ler.

• Opinião pessoal

Artigos exclusivamente de opinião também fazem falta, sejam eles sobre questões candentes a nível mundial (a sustentabilidade do planeta, problemas sociais ou económicos, choques culturais, entre outros) ou outras mais materiais ou comezinhas (a comida do restaurante que abriu recentemente ou qual a melhor marca de botas para caminhada). Aqui, o principal é ser honesto, coerente e – porque não? – persuasivo. Há que “defender a nossa dama” com bons argumentos, melhor ainda se a questão estiver a ser abordada de um ângulo original.

• Contar uma história

Há histórias de pessoas e lugares que valem, por si só, um artigo exclusivo e são o pano de fundo ideal para falar sobre determinado destino. Transcrever uma história que nos foi narrada na primeira pessoa pode dar vida a um local que, à partida, poderá nem ter grande interesse. O mesmo acontece com um acontecimento curioso ou marcante – se contado com mestria, pode despertar a curiosidade em conhecer o sítio onde esse acontecimento se deu. Uma boa história tem um poder que não deve ser menosprezado.

• Ensaio pessoal

Este é o tipo de conteúdo mais traiçoeiro, mas também provavelmente o mais gratificante para quem gosta realmente de escrever. São aqueles artigos onde se pode ir mais fundo em termos pessoais, falando do que foi mais marcante ou mais fortemente sentido, de peripécias e surpresas, bons encontros ou más experiências.

A liberdade criativa na escrita é total, desde que o conteúdo seja – obviamente! – sempre verdadeiro. Há, é claro, alguns cuidados a ter, como evitar descrever exaustivamente acontecimentos maçadores. Uma coisa é informar quem lê que uma fila de espera é longa, outra é contar, tintim por tintim, o que se fez e com quem se falou, durante a hora e meia que esperou para entrar numa atração da Disneyland. É de evitar também partilhar pormenores demasiado escabrosos ou íntimos, que não têm qualquer interesse prático para o leitor (ninguém quer saber se tinha uma dor de cabeça ou vontade de ir à casa de banho).

• Conselhos práticos

Os posts do tipo “Como…” ou “Conselhos para…” são também muito populares na blogosfera. Fornecem sugestões e conselhos úteis que facilitarão a vida a quem lê – ou pelo menos é isso que se pretende. “Como obter um visto para a Rússia”, “Conselhos para quem viaja de avião”, “Como fazer a mala de viagem em meia hora”… Há todo um mundo de ideias que podem surgir da experiência de viagem acumulada e que permitem ajudar quem não passou por isso. O desafio é também sair dos temas já mais dissecados e – muito importante! – cumprir de forma satisfatória o que é prometido no título.

Definir o formato/tipo do texto

Independentemente do conteúdo, a forma que damos a um post também pode variar. Embora certos tipos de texto sejam mais adequados para determinados conteúdos, nada nos impede de usar a criatividade, procurando formatos alternativos que saiam da monotonia, chamem a atenção de novos leitores e mantenham vivo o interesse de quem já nos segue.

• Roteiro

Criar roteiros é uma das melhores formas de fidelizar leitores. Um roteiro pode ser simplesmente um itinerário com indicação de paragens, sítios a visitar, onde comer ou ficar. Pode, também, incluir descrições mais exaustivas sobre os lugares sugeridos, distâncias a serem percorridas e até explicações detalhadas sobre como chegar a determinado local. Pode ser enriquecido com um mapa, um infográfico, ou qualquer outro tipo de criação gráfica original que o faça destacar-se pela diferença.

• Guia

Um guia é sempre um trabalho de fôlego, mesmo que seja sobre uma terreola pequena. É preciso conhecer bem o local e fornecer todos os detalhes necessários para satisfazer as necessidades e as dúvidas de quem o vai usar. Há que cobrir todas as áreas (alojamento, refeições, acessos, o que há para ver e fazer, informações práticas, etc.), fazê-lo de maneira sistemática e, ao mesmo tempo, sucinta, visualmente organizada, e fácil de encontrar pelo leitor. É um tipo de texto essencialmente informativo e que, apesar de detalhado, não se compadece com grandes floreados descritivos.

• Lista

Precisa sempre de uma introdução, que pode ser maior ou menor e mais ou menos rebuscada. Para a tornar mais interessante, é aconselhável acrescentar um comentário ou uma descrição, mais ou menos breve, a cada ponto da lista (ou à maior parte), caso contrário o resultado será absolutamente desenxabido, mesmo que a lista venha acompanhada de fotografias maravilhosas.

• Informativo

Menos exaustivo e compartimentado que um guia, este tipo de texto tem no entanto a mesma finalidade: fornecer informações práticas. Poderá incluir opiniões pessoais e algumas descrições, falar da história, de curiosidades, e incluir pormenores que sejam necessários, mas a escrita é simples e direta, sem “rodriguinhos” nem divagações.

• Diário

É, obviamente, sempre um texto pessoal e com as descrições cronologicamente organizadas. Pode ser mais genérico ou mais pormenorizado, focar-se essencialmente no local e na observação dos outros, ou na pessoa que está a escrever e na sua introspeção. Embora se possa optar por uma escrita mais cuidada, o ideal é que a linguagem seja informal (isso não quer dizer escrever da mesma maneira que se fala…), como se quem escreve estivesse a falar com um amigo.

• Narrativa histórico-geográfica

Este estilo de texto adapta-se a quase todos os tipos de conteúdo e é particularmente indicado para quem gosta de escrever sobre viagens como se estivesse a contar uma história. Neste tipo de texto pode incluir-se dissertações pessoais ou abordar outros temas que extravasam a viagem em si.

A informação não é passada de forma cronológica ou sistemática, mas encadeando uns temas nos outros, de modo a criar uma narrativa fluida, com variações de ritmo. Pede uma linguagem mais cuidada, mas não obrigatoriamente erudita ou muito formal. Liga bem com descrições, comentários pessoais, com histórias e até mesmo com observações bem-humoradas.

Como nota final, apenas uma sugestão, aquela que nunca é demais frisar: qualquer que seja o tipo de conteúdo ou texto escolhido, mesmo que o local de que falamos no post seja o mais maravilhoso do mundo, a nossa maior preocupação deverá ser sempre, mas mesmo sempre, escrever bem.

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Ana C. Borges
Ana C. Borges

Gosta de passeios longos e conversas intermináveis, de ver o que ainda não conhece e rever os lugares do coração. Fotografa para memória futura. Escreve porque lhe sabem bem as palavras. Viaja por paixão – e porque o mundo é demasiado grande para ficarmos quietos. É autora do blogue Viajar porque sim.

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