Bits e viagens: Catarina Gralha (entrevista)

Nome: Catarina Gralha

Profissão: Investigadora (área da Informática)

Data de nascimento: 1989

Local de nascimento: Lisboa

Local de residência: Lisboa

Próximas viagens: Irlanda e Namíbia

Blog: Mundo Indefinido

1. O que significam as viagens para si?

Sempre fui muito curiosa, há em mim uma grande vontade de aprender. Considero que uma das melhores formas de o fazer é através da descoberta do Mundo. Quando o fazemos com mente aberta, o ato de viajar permite-nos conhecer as outras culturas, respeitá-las, entendê-las. Torna-nos mais flexíveis e tolerantes.

Eu viajo para aprender, para ter mais compreensão, e para eliminar preconceitos. E porque acredito que, enquanto viajantes, podemos deixar uma marca positiva por onde passamos. As viagens transformam, tanto quem viaja como quem contacta com o viajante. E é essa transformação que também procuro.

Catarina Gralha na Alemanha

2. Entre os destinos que já visitou, há algum que a tenha marcado de forma especial? Conte-nos.

Todos os destinos são especiais e de todos trouxe memórias incríveis. No entanto, e tendo de decidir, confesso que tenho alguma dificuldade em escolher entre a Mongólia e a Rússia. A Mongólia acaba por “ganhar”, mas existe sempre alguma hesitação da minha parte.

Na verdade, a Rússia foi o primeiro país para o qual fui completamente sozinha durante seis semanas. Foi o período mais longo que fiquei longe de casa, sem ninguém conhecido para me acompanhar. A Rússia será sempre especial. Por toda a experiência de ir sozinha para um país cujo idioma não dominava, para uma região onde o inglês também era desconhecido da população: Volgogrado. Rapidamente aprendi que os russos, apesar do seu exterior mais frio, são calorosos. As pessoas, as pessoas… fazem qualquer viagem valer a pena.

No entanto, a Mongólia marcou-me pela sua beleza natural. E eu sou uma eterna apaixonada pela natureza. Sou (muito) feliz no meio de uma floresta, no topo de uma serra, ou junto a um rio. E foi essa felicidade que a Mongólia me trouxe, com as suas estepes, desertos e montanhas.

3. O que mais a influencia na hora de escolher um destino de viagem?

Sobretudo o tempo que tenho disponível e o preço dos bilhetes. Não me importo de repetir destinos, porque há sempre novas perspetivas que podem surgir, novos lugares para desbravar. Prefiro destinos de natureza, mas também gosto muito de cidades grandes, com património histórico e cultural. No entanto, as únicas influências são as que referi: disponibilidade temporal e monetária.

Paisagem da Mongólia

4. Já viveu fora de Portugal mais que seis meses? Se sim, onde e o que retirou dessa experiência?

Em 2017 vivi no Canadá durante seis meses, na cidade de Victoria (Vancouver Island). Na altura estava a fazer o doutoramento, e surgiu a oportunidade de ir durante um tempo para a universidade local. O mais difícil foi partilhar casa com três pessoas que não eram muito arrumadas. E o facto de o azeite ser extremamente caro!

O Canadá é um país impressionante. Acolheu-me de braços abertos e com um sorriso no rosto. As pessoas são muito afáveis. No geral, tudo funciona muito bem: os transportes, as estradas, os serviços. Não é um país perfeito, mas tem muitas coisas positivas.

Consegui explorar um pouco da província da British Colombia e, se a Mongólia já me tinha impressionado pela sua beleza natural, o Canadá não lhe ficou nada atrás. As áreas verdes são abundantes, mesmo nas cidades maiores, e não eram raros os dias em que saía de casa e via uma família de veados. Essa harmonia entre cidade e natureza agradou-me bastante.

5. Explique o que é o seu blog de viagens e a razão da sua existência.

O Mundo Indefinido surgiu em 2006 e, durante muito tempo, foi um blog onde ia escrevendo textos de ficção. Não era sobre viagens, mas uma forma de alimentar a minha ligação à escrita, que sempre foi muito profunda.

Foi apenas em 2015, após um interrail pela Europa, que comecei a partilhar as minhas viagens. Os textos dessa altura são muito diferentes dos que escrevo agora. Sinto que evoluí ao longo dos anos, que fui encontrando um estilo de escrita que se adequa a mim.

Mais do que partilhar dicas e relatos de viagens, que também faço, o meu objetivo principal é inspirar quem me lê a viajar de forma consciente, com mais conhecimento sobre o mundo e sobre o impacto das suas ações. Eu acredito sinceramente no poder transformador da educação, do conhecimento e da partilha de experiências.

Moraine Lake, no Canadá.

6. Como surgiu o nome do blog?

Desde que o blog surgiu, em 2006, que o seu nome se manteve. Na altura, o nome simplesmente apareceu na minha mente. Era o “mundo” da escrita. Hoje, é o “mundo” das viagens. Quando fiz a transição, achei que o nome se enquadrava perfeitamente aos tópicos que queria abordar, por isso mantive-o.

7. Destaque um dos posts de que mais gosta no seu blog e explique porquê.

Podia escolher outro, mas o texto Quando estive (quase) sozinha na Muralha da China é muito especial, porque relata uma das melhores experiências que tive em viagem. A sensação de percorrer uma das secções não restauradas da Grande Muralha da China é quase indescritível.

8. Alguma dica para quem pretende começar agora um blog de viagens?

Começar um blog de viagens é fácil. A parte mais difícil é mantê-lo e escrever com consistência e qualidade. É preciso dedicação, e ter as prioridades bem definidas. Para mim, há três coisas fundamentais: integridade, transparência e comunidade. Esta última não é relativa apenas aos leitores, mas também a outros bloggers. Considero muito importante aprender com os outros, assim como ensinar a quem sabe menos do que nós.

Trilho no Luxemburgo.

9. Que papel desempenham os blogs junto de outras pessoas que gostam de viajar?

São uma fonte de conhecimento e inspiração. Quando bem escritos, os textos dos blogs de viagens permitem-nos viajar, mesmo sem sairmos de casa. Também nos podem ajudar no processo de planeamento de uma viagem, com dicas e informação preciosa de quem já esteve nos locais. No fundo, os blogs de viagem têm dupla função: de inspirar e informar.

10. Qual é o seu maior sonho por cumprir?

São muitos, mas tenho planos para todos eles. Quero fazer uma grande viagem de volta ao mundo numa carrinha transformada em casa ambulante. Também pretendo subir a algumas das montanhas mais altas e fazer vários trilhos longos, como os Caminhos de Santiago ou o Appalachian Trail. São sonhos ambiciosos, mas ter um plano ajuda a transportá-los do imaginário para o real. Os sonhos são para serem realizados.

Partilhar
Ruthia Portelinha
Ruthia Portelinha

Viajante, mãe babada, chocólatra, amante de livros e museus.
Autora do blog O Berço do Mundo.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Search