“Escrita”: quanto valem 1000 emoções?

Diz-se que uma boa imagem vale por mil palavras. É um facto. Tem um impacto incrível. Prende-nos o olhar, solta-nos a mente. Mesmo assim, entendo que o poder da escrita é ainda maior.

Inspira-nos com outra profundidade. Leva o cérebro a experienciar um desafiante conjunto de sensações. A palavra explora a plenitude dos sentidos e tem o ímpar condão de nos libertar a alma. De conduzir a nossa imaginação por viciante explosão de emoções.

É, também por isso, que a qualidade dos textos, o modo como tratamos a nossa língua, não podem ser desprezados, muito menos num blog de viagens. Afinal, a ideia é motivar, inspirar, levar os outros a viajar através dos nossos olhos, certo? Incentivá-los a querer partir…

Quantas vezes dizemos que não temos palavras para descrever algo que vemos ou sentimos?  Na verdade, elas existem. Porém, os nossos recursos lexicais estarão algo perros. E o cérebro, em busca de uma solução, opta regularmente pela mais fácil e caímos nesse aborrecido clichê.

Quando escrevemos que a deslumbrante paisagem é “top”, revelamos que a comida que nos delicia também é “top” e que o indivíduo fantástico que conhecemos é invariável e simplesmente “top”, não estaremos a ser entediantes e vulgarizar tudo isso?

Pior, o embaraço de dizermos exatamente o oposto do que pensamos, somente por não sabermos usar a pontuação. Ou a sensação de ler um texto ao ritmo gaguejante de um aprendiz de condução, com os solavancos constantes provocados por quem parece semear vírgulas ao invés de as colocar no lugar próprio.

Devemos ser exigentes (também) com o nosso trabalho. Em primeiro, por nós. Mas o nosso público merece e as marcas (quem pretende trabalhar com parcerias) agradecem. Qual o interesse de uma marca em ter acordos com um projeto de grande mediatismo nas redes se este tiver notórias debilidades de português? Apenas vai replicar à exaustão uma mensagem que não coloca o seu produto (destino, hotel, restaurante, seja o que for) na excelência que o mesmo entende ter.

Uma boa escrita pressupõe o domínio da língua. A capacidade de compreender textos, de raciocinar sobre os mesmos, a facilidade de organizar ideias e articular pensamentos. É uma ferramenta fundamental na arte da comunicação. É um estímulo à criatividade. E como é bom poder inspirar os outros até à medula…

Atenção, o objetivo não é – de todo – sermos todos Camões, Saramago, Pessoa, Sophia, Florbela ou Quental. É simplesmente o de nos exprimirmos em bom português, a língua na qual afinal todos nos entendemos. Depois, cada um liberta o seu estilo pessoal – indiferente se mais poético ou informativo, simples ou rebuscado – na partilha das suas experiências.

Se muitos apostam – e bem – em formação em fotografia, vídeo ou gestão de redes sociais, porque não fazer o mesmo com um ‘refresh’ da língua portuguesa? Se sentes algumas dificuldades nesta área, pensa nesta valorização pessoal de importância incalculável.

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Rui Batista
Rui Batista

Apaixonado por pessoas genuínas e lugares improváveis, o jornalista gosta de mostrar o Mundo tal como é. No seu blog BornFreee.

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