O Dia Mundial do Turismo, celebrado a 27 de Setembro, é uma data que convida à reflexão sobre uma das indústrias mais importantes e transformadoras da economia global. Desde que a Organização Mundial do Turismo (OMT) instituiu este dia, em 1980, o sector cresceu exponencialmente, sendo um motor económico em muitos países e uma ponte entre culturas. No entanto, o turismo enfrenta hoje em dia desafios complexos, sobretudo no que diz respeito à sustentabilidade, ao impacto ambiental, e à necessidade de encontrar um equilíbrio entre desenvolvimento económico e preservação do património natural e cultural.
Turismo e sustentabilidade: uma relação complicada
O turismo sustentável tornou-se um dos temas mais discutidos na actualidade. A crescente consciencialização sobre as alterações climáticas e o impacto humano no meio ambiente pressionou a indústria a repensar as suas práticas. Estima-se que o turismo seja responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases com efeito de estufa, o que leva a questionar: como pode o turismo continuar a crescer sem agravar a crise climática?
A sustentabilidade no turismo exige mais do que campanhas de sensibilização; requer uma mudança estrutural em termos de transporte, infra-estruturas e gestão dos destinos. Por exemplo, a aviação continua a ser uma das maiores fontes de emissões de carbono, tal como os navios de cruzeiro são responsáveis por elevadas emissões de gases com efeito de estufa, poluição da água e do ar, além do impacto nos ecossistemas marinhos e costeiros, e a transição para formas de transporte menos poluentes, como comboios de alta velocidade, ainda é lenta em muitos países. Além disso, a construção desenfreada de hotéis e resorts, muitas vezes em áreas ambientalmente sensíveis, contribui para a destruição de habitats e para a degradação do meio ambiente.
Por outro lado, algumas iniciativas positivas têm vindo a ganhar força. O conceito de “turismo regenerativo”, que vai além da sustentabilidade, procura devolver aos locais mais do que aquilo que foi retirado. Este modelo incentiva os turistas a participarem em actividades que reabilitem os ecossistemas, apoiem as economias locais e promovam a preservação cultural. No entanto, a sua implementação em larga escala permanece um desafio.
Overtourism: quando o turismo se torna um problema
Outro tema premente é o fenómeno do overtourism, ou o excesso de turismo, que se tornou particularmente evidente em cidades europeias como Barcelona, Veneza ou Dubrovnik, onde o número de turistas excede em muito o de residentes, causando pressões sociais e ambientais significativas. Este fluxo contínuo de visitantes pode levar à inflação, à degradação dos espaços públicos e à expulsão de moradores devido ao aumento do custo de vida.
A pergunta que se impõe é: como gerir a crescente demanda por viagens a destinos populares sem sacrificar a qualidade de vida dos residentes e a integridade do património local? Algumas cidades têm implementado limites diários de visitantes, aumentos nas taxas turísticas e restrições ao alojamento de curta duração (como o Airbnb) na tentativa de controlar o fenómeno, mas estas medidas nem sempre são bem-recebidas por todos os intervenientes.
O desafio está em encontrar um equilíbrio entre o desejo dos turistas de explorar novos destinos e a capacidade desses locais de absorver tal fluxo sem perder a sua autenticidade. O turismo, quando mal gerido, pode transformar as cidades em “parques temáticos” culturais, esvaziando-os do seu carácter genuíno.
Turismo de base comunitária: uma alternativa sustentável
Para muitos especialistas, a solução para os problemas do overtourism e da sustentabilidade no turismo passa pela promoção do turismo de base comunitária. Este modelo envolve as comunidades locais na gestão e na oferta de experiências turísticas, garantindo que os benefícios económicos são redistribuídos de forma equitativa e que os recursos naturais e culturais são preservados. No turismo de base comunitária, os turistas têm a oportunidade de conhecer com a vida quotidiana dos locais, aprender sobre as suas tradições e contribuir para o desenvolvimento sustentável da região.
Em países como o Peru, o Quénia ou o Nepal, este tipo de turismo tem vindo a ganhar relevância, oferecendo uma alternativa ética ao turismo massificado. No entanto, para que o turismo de base comunitária seja verdadeiramente eficaz, é essencial que as comunidades sejam capacitadas para gerir os recursos turísticos de forma autónoma e sustentável.
Ética no turismo: um caminho a percorrer
A ética no turismo é outro tema que tem vindo a ganhar visibilidade. Questões como o impacto do turismo de massa em culturas vulneráveis, o turismo sexual e a exploração laboral em destinos turísticos são temas que exigem um debate mais profundo. De que forma podem as empresas turísticas e os viajantes contribuir para uma indústria mais justa e ética?
Muitas agências de viagens e operadores turísticos têm vindo a adoptar políticas de responsabilidade social, promovendo práticas justas e respeitadoras dos direitos humanos. No entanto, a transformação ética do sector exige uma mudança nas mentalidades dos próprios turistas. O consumidor consciente, aquele que se preocupa com o impacto das suas escolhas de viagem, está em ascensão, mas ainda representa uma minoria.
As questões em aberto
O Dia Mundial do Turismo é um momento oportuno para levantar questões essenciais sobre o futuro do sector. Como podemos, enquanto sociedade global, assegurar que o turismo se desenvolva de forma sustentável e ética? Será possível encontrar soluções para o problema do overtourism sem comprometer o crescimento económico que o turismo proporciona a tantas nações?
Outro ponto que merece reflexão é o papel das novas tecnologias na indústria do turismo. Com o aumento das viagens virtuais, das plataformas de turismo online e da inteligência artificial aplicada à gestão de destinos, como será o futuro das viagens no mundo digital? Poderá a tecnologia ser parte da solução para os desafios do turismo?
Um futuro em construção
O Dia Mundial do Turismo lembra-nos que a indústria é uma força poderosa de transformação, mas que também traz consigo responsabilidades. O caminho para um turismo sustentável, ético e inclusivo ainda está a ser traçado, e a sua concretização dependerá do compromisso conjunto de governos, empresas, comunidades e turistas. Enquanto algumas perguntas permanecem sem resposta, a discussão em torno delas é um passo importante para moldar o futuro do turismo de forma positiva.
Até o Porto já me vai lembrando as Ramblas, em Barcelona, já há uns anos atrás, em que eu não conseguia encontrar um local, para fazer qualquer pergunta, e naquelas lojinhas não havia catalaes/espanhóis, mas sim pessoas da Ásia, como paquistaneses. Passar pela Rua das Flores e ali à volta, começa a ser o mesmo, para não dizer que não dá para usar o funicular da ponte D. Luís porque costumava estar (fiz tentativas em diferentes, épocas do ano) sempre lotado de turistas. Para mim seria um meio de transporte para subir a encosta, que se tornou de muito difícil uso para os locais.
Eu adoro viajar, conhecer outras culturas, falar com os locais e conhecer o melhor possível as suas formas de viver. O novo turismo mais consciente tem que crescer cada vez mais.
E ainda temos outra “praga”: apesar de eu usar o Instagram, detesto encontrar o/as influencers, que não ligam para nada ao local onde estão, (ex: sapatos altos e roupa não adequada para andar em locais de montanha) mas que ficam num local tanto tempo a posar para a foto, que eu já nem paro nessas situações, porque já me cansei de esperar da paciência e falta de respeito desses jovens. Bolas, já nem sei o que escrevi. Bjs
Olá Adelaide! É isso, precisamos mesmo de um turismo mais consciente e menos “egoísta”. A palavra-chave é, quanto a mim, “respeito”. Pelos sítios, pelas pessoas, pela cultura. Ainda assim, o excesso de turismo incomoda quem vive e trabalha em cidades onde esta tendência já passou a ser uma constante. Contra os males do turismo são precisas, por um lado, políticas de fundo, e por outro a contribuição de cada um de nós – sermos conscientes e fazermos a nossa parte, por pequena que seja, no nosso país ou fora dele. Obrigada e um beijinho.