Em movimento constante: Jorge Duarte Estêvão (entrevista)

Nome: Jorge Duarte Estevão

Profissão: Jornalista, fotógrafo, líder de viagens

Local de residência: Londres

Blog: Lugares Incertos

1. Porque é que decidiste criar um blog de viagens?

Adotei o slogan “o mundo aqui ao lado”, pois a facilidade de viajar nunca foi tanta e, ao mesmo tempo, quero inspirar quem me lê e mostrar que o mundo está mesmo muito perto – mesmo que seja necessário atravessar meio mundo para lá chegar.

Fi-lo, em primeiro lugar, por um motivo altruísta, porque queria que as minhas experiências inspirassem outros a visitar novos locais. No fundo, estaria dizer a quem me ia ler (e lê): tu também podes. Inspira-te aqui e vai, parte, não tenhas medo.

2. O que é que podemos encontrar no teu blog?

Podemos encontrar as histórias de alguém que gosta de ser tratado por tu, de alguém que partilha dicas e roteiros, mas onde há também inspiração pura, onde estão crónicas de viagem, algumas escritas apenas com a emoção e com pouca razão. E depois há ainda espaço para notícias e tentativas de alertas para que viajemos de forma mais sustentável e com maior respeito pelo ambiente, pelas culturas distintas.

3. Tens preferência especial por algum dos teus posts? Porquê?

Todos os posts têm a sua importância e tenho imensos comentários a dizer-me como é útil a informação que partilho, que ajuda quem lê a marcar as suas próprias viagens.

No entanto, se tivesse de destacar um artigo, talvez fosse “O dia em que me apaixonei em viagem”. E, atenção, que o título pode não contar (não conta) toda a história.

4. Qual é a razão principal que te leva a viajar?

Sou um animal irrequieto. Necessito deste movimento constante, da incerteza, de ver o mundo de outra perspetiva. Viajo por curiosidade, para mostrar que o mundo não é como o vemos a partir da nossa bolha, a partir do nosso sofá. Que em todo o lado há boas pessoas. Que na Guatemala me recebem de braços abertos e me oferecem café, que na Geórgia me oferecem vinho, que no Botswana preferem receber uma mochila para a escola do que receber dinheiro (para quebrar o preconceito que nos países mais pobres apenas querem dinheiro de quem os visita), que é possível ir além da conversa banal de viagens (para onde vais, de onde vens) e que é possível fazer amigos além dos que temos no dia-a-dia. Viajo para ver sorrisos, mesmo nas situações mais complicadas, para ver sorrisos quando os surpreendo com qualquer coisa que levo e lhes ofereço (normalmente comida ou bebida).

5. Qual é o meio de transporte que preferes para viajar?

Esta é fácil: o comboio. Sempre que possível o comboio. É onde me sinto mais relaxado a viajar, onde me posso levantar e caminhar uns metros, onde posso conversar com pessoas, ver a paisagem a passar, onde posso escrever, meditar, refletir. E além de ser confortável, é também um dos meios de transporte mais ecológicos (regra geral). Foram também estas premissas que me levaram a viajar, durante seis meses, entre Portugal e Macau – de comboio. Como diz aquela personagem (Sheldon Cooper) da série de comédia Big Bang Theory: “I love trains”.

6. Há algum destino (ou destinos) que não queiras mesmo visitar? Porquê?

Não tive, nem tenho, qualquer intenção de visitar todos os destinos no mundo. Muitas vezes até prefiro voltar aos mesmos sítios do que procurar um país diferente só porque sim, só para entrar em rankings ou algo do género. Não é isso que me move. Até porque ao visitar o mesmo destino várias vezes encontro sempre algo distinto, encontro novas experiências.

Por isso estive 7 ou 8 vezes na Islândia, 7 ou 8 vezes na Guatemala e no México, várias vezes na Namíbia, só para citar alguns exemplos de locais aonde regresso frequentemente. E de cada vez que regresso encontro algo novo. Com isto não quero dizer que excluo um ou outro país à partida. Creio que só a situação política ou de regime me possam desincentivar de os visitar. Por exemplo, na situação atual, na altura em que conversamos, não tenho interesse em visitar a Rússia (onde já estive) ou Israel. Mas é preciso sempre ressalvar que uma coisa são os povos, outra são os regimes ou governos.

Há pessoas boas, há muita gente boa que, várias vezes, não quer nada em troca. E que estão tão curiosos em saber porque estou ali, tanto como eu estou curioso em saber como eles vivem ali.

7. Costumas tentar aprender algumas palavras na língua do sítio para onde vais viajar?

Sim, sempre tento. Creio que o mínimo que se pode fazer é aprender umas frases básicas para trocar com as pessoas locais. Por exemplo, numa das vezes que visitei a Turquia e passei lá mais de um mês, estive a ver vídeos e a aprender palavras e frases. E basta ver como a reação das pessoas locais muda quando veem que nós fizemos um esforço para aprender meia dúzia de palavras. Imaginem que na China até já me ofereceram um jantar porque estava com um amigo que fala a língua, porque é tão incomum alguém esforçar-se para falar a língua local e apenas usar o inglês, que isso foi premiado.

É claro que depois de algum tempo acabamos por esquecer o que aprendemos. A língua é como o desporto, é preciso ir aos treinos para manter a forma.

8. Qual é a tua memória mais antiga de viagem?

Provavelmente terá sido a primeira viagem a Londres, há muitos, muitos anos. Até porque na altura ainda nem existiam cartões de débito com o código de segurança de três dígitos e eu e um amigo estávamos com sérias dúvidas de que aquilo fosse funcionar. Mas depois os bilhetes foram emitidos e acabámos por ir. Por isso, a primeira viagem de avião aparece a partir de uma brincadeira. Fomos sem preparação, só andar à deriva. E depois quis o destino que fosse viver para Londres. Portanto, foi uma memória que ficou.

9. Qual é o papel que achas que os blogs desempenham para outras pessoas que gostam de viajar?

Acho que com os blogs as pessoas acabam por se inspirar em alguém tangível que partilha a sua experiência pessoal e está ali ao alcance de um email, das redes sociais, alguém com quem podem contactar facilmente. E as próprias experiências, da forma como são contadas, acabam por dizer a quem lê o seguinte: isto é possível. É possível eu ir à Malásia ou ao Uzbequistão. Tenho aqui a informação e isto não é só um sonho. Creio que há uma relação mais próxima entre o que contamos nos blogs e a forma como se contam histórias numa revista de viagens ou num jornal. Há uma distância maior, mais impessoal nestes últimos casos.

10. Qual é o teu maior sonho de viagem ainda por cumprir?

Eu não diria que é um sonho, porque muitas vezes um sonho é encarado como algo utópico que pode, ou não, ser alcançado. Portanto, eu substituiria a palavra sonho por “objetivo”. E tenho vários projetos e objetivos. Se quisermos falar apenas de um objetivo, então esse seria visitar o único continente que me falta: a Antártida. Mas tenho muitos mais projetos, entre ideias fotográficas, até viagens de longo prazo, como a que fiz entre Portugal e Macau.

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Ana C. Borges
Ana C. Borges

Gosta de passeios longos e conversas intermináveis, de ver o que ainda não conhece e rever os lugares do coração. Fotografa para memória futura. Escreve porque lhe sabem bem as palavras. Viaja por paixão – e porque o mundo é demasiado grande para ficarmos quietos. É autora do blogue Viajar porque sim.

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