Com a primavera a lançar os trunfos todos no sol, seguimos a Sul para um encontro de 48 horas com um bando largo de ilustres bloggers ABVP. Por estradas com horizontes largos, chegamos a Ferreira do Alentejo. Uma pequena vila no interior Sul de Portugal, território cheio de tradições que se preservam e rituais que souberam reinventar-se, com a cumplicidade das pessoas que insistem em permanecer.
Rui Colaço, verdadeiro MC de Ferreira. Recebe-nos com estilo no Pátio das Andorinhas, o mais eclético e mágico espaço cultural do Baixo-Alentejo que, por acaso, também tem uns quartos para encostarmos à noite. – Acreditem, não é científico, mas deixem-se levar pelo meu palpite. As inúmeras salas desta hospedaria estão apinhadas de peças bonitas, curiosas e bizarras de todo o mundo. No entanto, é um espaço de encontros das pessoas boas da terra que cantam o Cante com a alma e bebam o vinho sem pudor. Saudinha da boa, camaradas!
Cante Alentejano
Enquanto dávamos nas entradinhas em forma de pecado, com azeitonas, queijo curado e torresmos-maravilhosos-deixa-ver-se-não-entope-uma-veia, somos invadidos pelos Os Boinas que, do alto das suas gargantas extremamente bem hidratadas com néctar entre os 13 e os 16 graus, mergulharam sem medo a uma só voz para uma Ó Menina Florentina.
Há quem diga que o cante alentejano teve origem nos coros gregorianos das igrejas católicas ou nos cânticos árabes que ecoaram pelas planícies do sul do país durante séculos. Escolham vocês! No entanto, é sabido que a existência é mais antiga que a Sé de Braga e o suficiente para que, mesmo não sendo a única expressão musical do Alentejo, procura tornar-se a história do Alentejo na voz do seu povo. Desde 2014, a UNESCO classificou o Cante como património cultural imaterial da humanidade.
Nota-se que fui à Wiki?
BarbieLand sem Grainhas
Fiz mal a alguém para merecer isto? Foi a pergunta que fiz a mim mesmo nas primeiras horas da manhã quando me vi em cima de um trator cor-de-rosa (fod@-sss!??), a levar com sol de chapa no lombo numa herdade de produção intensiva de uva SEM GRAINHAS (a sério!??). Bem, depois disto estou na dúvida se devo divulgar o spot Vale da Rosa (pronto, já está…), não vá a ABVP ser acusada de anti-blogs-fofinhos-de-viagens-gratiluz por mea culpa. Se não aparecer por aqui mais vezes, já sabem porque foi 😉
No entanto, apesar das minhas imensas reservas com a monocultura, com os trabalhos precários temporários com imigrantes neste tipo de explorações, é justo referir que tem feito um esforço na gestão do impacto ambiental negativo e no controlo de consumo da água.
E, já agora, fomos muito bem tratados. O que é bonito!
Um sunset por dia nem sabes o bem que te fazia
Apesar do Alentejo profundo já ter os Lidls e Pingo Doces desta vida, se há coisa que os alentejanos levam muito a sério, são os prazeres do palato. Que bem se come nesta terra, carago!
A arte gastronómica destes meninos é muito à base de pão e ervas do campo, para dar aquele gostinho. A carne inclina-se para o porco, mas não esquece o feijão com carrasquinhas com o bom vinho da Herdade do Pinheiro para empurrar. E as migas, senhor. As migas!! Ficaram-me a dever uma açorda de beldroegas. Creio que foi o esquema que arranjaram para ter que voltar rápido.
Depois deste festival da gula, rebolamos para Odivelas. Aquela que não têm trânsito.
Conversa da boa, vista desafogada e, claro. Sunset-fluffy-para-bloggers.
Em Singa laureia-se
Ao domingo, cultiva-se o maior e mais nobre de todos os desportos nacionais: Laurear a Pevide. No Alentejo não é diferente e, como portugueses bonitos que somos, abraçamos a causa com carinho. O Filipe, o Rui, a Ana, o Marcelo, a Catarina, a Filipa, a Patrícia, a Vera, o Gonçalo, a Mónica, a Raquel, o João, a Inês, a Maria e a Coi, demos todos as mãos e, de nenúfar em nenúfar, vamos ao centro histórico de Ferreira com o nosso camarada e amigo Rui Colaço.
Não obrigatoriamente por esta ordem, o rally pedestre passa pela fábrica de camas em ferro – iguais à que tinha no meu quarto das andorinhas – segue com confiança pela Capela do Calvário, curiosa arquitectura cravada de pedras. Óptima para escalada!
Dizemos olá à nobre estátua da Ferreira que, segundo a lenda, põe a Padeira de Aljubarrota num chinelo. Brava, a miúda Ferreira de Singa (como chamavam os Romanos à terra). Segundo reza a lenda, na época das investidas bárbaras, agarrou em dois malhos e partiu a loicinha toda dos Suevos, dos Visigodos ou de quaisquer outros artolas que viessem para aqui conquistar. Dali seguimos para o museu municipal, damos um saltinho ao Santuário da Senhora da Conceição “Deles” e para acabar em beleza, na Adega do Lelito. Uma antiga Taberna típica alentejana, com tanta história como vinho entornado, naquele balcão centenário. Um bem haja à Ana Carla pelo sorriso, simpatia e azeite do bom.
(No Alentejo) anda-se quatro ou cinco léguas sem ver uma só alma
e há uma enorme quantidade de terra sem cultura. (…)
É preciso um dia pensar seriamente nisto.
Maria II – Cartas à rainha Vitória (1843)
Hora de Abalari
Abalar com vontade de voltar. Foram dois dias bonitos de descoberta, bom vinho, melhor comida e muitas gargalhadas. Houve tempo para alinhar os astros da ABVP, apontar caminhos e acordar novas energias, com a confiança de que a turminha está a olhar para o mesmo horizonte.
Vou-me assacudindo!