Portugal foi recentemente distinguido com o prémio de “Destino Turístico Acessível 2019”, na Assembleia Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT) que se realizou em São Petersburgo, na Rússia.
Atribuído pela primeira vez nesta 15ª edição dos prémios dinamizados pela OMT, em parceria com a organização espanhola ONCE, o galardão pretende premiar o trabalho para tornar o setor de turismo mais sustentável e mais acessível.
Ou seja, o prémio vem reconhecer o esforço efetuado nos últimos anos na área das acessibilidades, de modo a que o turismo possa ser usufruído por todos, independentemente das limitações de cada um. Portugal destacou-se neste contexto com a implementação, nos últimos anos, de uma série de medidas.
Portugal Acessível
O programa “Praia Acessível – Praia para Todos” que, como o nome indica, pretende que as zonas balneares estejam ao alcance de todos, teve início em 2004 como resultado da parceria de várias entidades e a colaboração dos respetivos municípios.
Longe de estar concluído e, na minha opinião, com necessidade de grande aperfeiçoamento, este é um dos projetos que tem evoluído, tornando muitas praias do país acessíveis, com equipamentos próprios e meios de ajuda.
Neste contexto, destaco o esforço feito em 2019 pelo município de Setúbal, ao melhorar os recursos já existentes na praia da Figueirinha, destinados a pessoas com mobilidade reduzida, acrescentando ainda na sinalética o código de cores “ColorAdd”, para daltónicos.
Quanto a mim, a nossa vizinha Espanha lidera esta maratona com uma oferta muito boa, em quantidade e qualidade de serviços, como os que que encontrei na Praia do Muro, em Alcúdia (Maiorca).
Para além disso, o Turismo de Portugal lançou o programa All for All em 2016, visando o desenvolvimento de programas que contribuíssem para tornar o setor acessível.
Daí resultou um investimento superior a 20 milhões de euros, aplicados em mais de 100 projetos.
Cidades
Uma das perguntas que mais me fazem, e à qual sinto alguma dificuldade em responder, é: “qual o país/cidade onde já esteve que considera mais acessível?”
Até há algum tempo, respondia prontamente Espanha! No entanto, desde que estive em Berlim a minha resposta mudou. Aquela foi talvez a cidade mais livre de obstáculos em que já estive.
O mais curioso é que em Berlim também encontramos calçada portuguesa. No entanto, esta é sempre acompanhada por uma faixa de piso liso, que eu considero uma boa solução a adotar.
Mas não há cidades totalmente acessíveis. Prova disso foi a situação vivida no metro de Berlim. Saí numa estação em que só existiam escadas e, na seguinte, o elevador estava avariado, pelo que tive mesmo que descer uns degraus.
Considero que houve uma grande evolução nas cidades portuguesas, nos últimos anos. É certo que ainda há muito a fazer, mas também muito já foi feito.
As cidades mais pequenas, que não Lisboa ou Porto, estão a ganhar pontos! Setúbal, onde vivo, está a tornar-se uma cidade bastante acessível, com passeios rebaixados, serviços públicos acessíveis, praia inclusiva… Até os privados começam a ter essa consciência e a preparar os seus espaços para receber toda a gente!
Claro que cidades com grandes inclinações de terreno, ou com centros históricos mais antigos, dificilmente ficarão ao alcance de todos, pelo menos na sua totalidade.
É o que acontece, por exemplo, com a lindíssima cidade de Évora. O seu piso irregular, tão característico da zona histórica, assim como as ruas estreitas e inclinadas, serão sempre limitativas à boa circulação de uma pessoa com mobilidade reduzida.
Alojamento
Os hotéis têm feito um grande investimento para se tornarem acessíveis e terem quartos adaptados, até porque é obrigatório por lei. Agora, há que rentabilizar este investimento.
Achei interessante, numa palestra onde estive a apresentar o meu blog a alunos de turismo, quando uma jovem estudante perguntou se não era mais caro viajar para uma pessoa com mobilidade reduzida.
De facto, a garantia de arranjar um quarto acessível é sempre maior em hotéis com mais estrelas e, consequentemente, mais caros. Se juntarmos a isto o facto de que em muitos hotéis não é possível ficar no quarto mais barato, porque o adaptado é de uma categoria superior, torna-se muito mais dispendioso. Esta é uma situação altamente discriminatória!
Mas a realidade está a mudar e começam a aparecer alojamentos mais pequenos que respondem a estas exigências.
Na maior parte dos casos, não há informação nos sites dos hotéis ou alojamentos sobre esta questão. Além disso, o facto de uma unidade ter um quarto adaptado não nos dá a garantia de que este está disponível. É preciso reservar sempre vários alojamentos e esperar que confirmem a disponibilidade.
Nicho de mercado = oportunidade de negócio
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 15% da população mundial tem alguma incapacidade. Se a estes números juntarmos a previsão de que 22% da população terá mais de 60 anos em 2050, encontramos aqui uma oportunidade de negócio a explorar.
Segundo dados do Turismo de Portugal, só a Europa representa um mercado de 90 milhões de turistas com necessidades específicas de mobilidade.
O evoluir da ciência, e o consequente aumento da esperança e qualidade de vida, faz com que muitas pessoas viajem regularmente na reforma. Esta é uma realidade que observo nas minhas viagens.
Trata-se de um mercado que gera receitas fora da época alta, pois são viajantes de todo o ano que procuram destinos de clima ameno (como Portugal) e estadias mais prolongadas. As suas limitações físicas implicam uma dependência de serviços como transportes, cuidados de saúde, entre outros, gerando, assim, mais receitas.
É por tudo isto que os números do turismo acessível aumentam. Há que encarar este tipo de turismo como um nicho de mercado e como uma oportunidade de negócio, e não como uma obrigação legal.
Um longo caminho a percorrer
Portugal não é o destino mais acessível do mundo, mas espero que este reconhecimento traga um grande incentivo nesse sentido e que se continuem os esforços muito necessários para que se torne um destino para todos.
Uma das vertentes do meu blog JustGo by Sofia é, precisamente, destacar as boas práticas em termos de acessibilidades no nosso país e, assim, chamar a atenção para esta temática. Espero desta forma contribuir para que se criem condições e Portugal possa ser considerado, efetivamente, um país acessível.