Turismo Histórico-Militar em Portugal: um nicho a explorar

O projecto fotográfico OLIRAF concilia o gosto pelas estórias da História, da Fotografia e das Viagens. Rafael Oliveira é um "travel blogger" que presta uma atenção muito especial ao património histórico-militar.

O Turismo Histórico-Militar está em crescimento e, com ele, um nicho que pode constituir uma oportunidade de diferenciação para os blogs de viagem

A Internet é a forma mais rápida de chegar a uma vasta audiência num mundo cada vez mais global, onde o mercado do turismo se caracteriza pela enorme oferta de produtos e destinos vocacionados para as massas.

Felizmente, tem crescido também a procura de nichos turísticos que primam pela qualidade da oferta e pela diversidade de experiências. Neste contexto, há cada vez mais portugueses interessados num produto turístico mais individualizado, exigente e especializado: o Turismo Histórico-Militar.

Enquadrado no segmento do turismo cultural, o Turismo Militar está associado a episódios de grande violência, destruição e mortandade, tais como batalhas ou cercos.

Quem aprecia este tipo de turismo, gosta de visitar locais e monumentos onde decorreram episódios marcantes, que fazem parte da memória e identidade portuguesas, sem o risco da violência que atingiu inúmeras gerações ao longo de quase nove séculos de história como nação independente.

Carros de Combate do Museu Militar de Elvas © Blog OLIRAF

O Turismo Histórico-Militar não se destina exclusivamente a militares, é para todos! Este segmento turístico dá a conhecer os locais, acontecimentos e o património edificado de cariz bélico, da história coletiva de um território, incorporando diversas formas de cultura, história ou arquitetura.

Trata-se de um produto turístico diferenciador, com inúmeras valências e potencialidades, impacto no território e nas suas comunidades.

Como segmento do turismo histórico-cultural, o Turismo Militar está presente um pouco por todo o mundo, particularmente, com a história militar, campos de batalha, museus militares, antigas unidades militares, rotas turísticas, experiências com acervo de material bélico, património edificado, lugares abandonados, eventos aéreos, entre outros.

Torre de Menagem do Castelo de Melgaço © Blog OLIRAF

Entre as experiências turísticas que este nicho pode proporcionar lista-se:

  • visitar o local da Batalha de Waterloo (1815), no âmbito das Guerras Napoleónicas, Linha Maginot (França);
  • visitar as ruínas e fortificações abandonadas da muralha do Atlântico na Normandia (França);
  • conhecer os museus militares de Inglaterra (Imperial War Museum – Londres), de França (Musée des Blindés de Samur) ou Espanha (Museo del Ejército – Toledo), a antiga unidade naval HMS Belfast (Londres), o Castel del Monte (Itália) ou as fortalezas abaluartadas de Jaca (Espanha), Besançon (França) e Naarden (Países Baixos);
  • assistir à recriação histórico-militar da Batalha de Bailén (1808) em Espanha ou ao Duxford Air Festival – Flying Legends WWII;
  • experimentar um carro de combate do Exército Português (Elvas);
  • percorrer a Rota do Românico (Portugal).

O Turismo Histórico-Militar é um mercado em franco desenvolvimento, no contexto nacional e internacional. No entanto, existem ainda poucos blogs de viagem especializados nesta temática.

Air Show no Museu do Ar (Sintra) © Blog OLIRAF

Turismo Histórico-Militar em Portugal

Os acontecimentos histórico-militares das Invasões Francesas – cercos, batalhas e escaramuças – têm sido recriados em vários locais de Portugal, do Vimeiro (concelho da Lourinhã) a Almeida (distrito da Guarda), sem esquecer o Sobral de Monte Agraço, na região Oeste.

Existem pelo menos cinco grupos de reconstituição histórica que promovem o turismo associado às Invasões Francesas em Portugal (1807-1811) e as Guerras Peninsulares (1808-1814), cujos eventos atraem cada vez mais curiosos. Veja-se o belo exemplo da reconstituição histórica do Cerco de Almeida (1810) que tem dinamizado, turisticamente, a estrela do interior.

A Associação de Turismo Militar Português (ATMPT), sem fins lucrativos, foi criada em 2015 para “a promoção, divulgação e preservação do património histórico e militar português, a promoção e a realização de eventos no âmbito do turismo militar, bem como o desenvolvimento de uma Rede Nacional de Roteiros de História Militar, integrando e estruturando a oferta turística do património militar nacional”.

Trata-se de uma organização essencial para o desenvolvimento deste tipo de turismo, fomentado sinergias entre diferentes entidades públicas, empresas e agentes de animação turística que trabalham com este segmento de mercado, em Portugal continental, Açores e Madeira.

cerco de Almeida
© Blog OLIRAF

Recentemente foi também criado o portal Turismo Militar (2019), por um gabinete da Direção Geral dos Recursos da Defesa Nacional, com o intuito de promover o património edificado e as rotas turísticas de cariz histórico militar em território nacional, com a marca das Forças Armadas Portuguesas.

No sítio web, o visitante encontra roteiros turísticos como a Rota dos Castelos da Bandeira Nacional (Raia e Algarve), a Rota dos Museus e Coleções Militares e a Estrada Nacional (EN2).

Destaque-se ainda o projeto Dinamizar Fortalezas, inspirado no manuscrito do séc. XVI Livro das Fortalezas, que relata as viagens de Duarte d’Armas, escudeiro de D. Manuel I, e que pretende motivar os portugueses a conhecerem a História de Portugal e os inúmeros castelos, fortes e fortalezas da raia.

A revista INVADE! Património.Turismo.Lazer, lançada em outubro de 2019 por ocasião das comemorações do Dia Nacional das Linhas de Torres, é outro bom exemplo prático da promoção das Linhas defensivas da Península de Lisboa, focando-se nas potencialidades dos produtos e recursos turísticos endógenos.

O papel dos blogs de viagem

O Turismo Militar não é uma excepção às leis do mercado, determinadas pela valorização e preservação do património edificado e pelo potencial turístico dos mesmos.

As marcas procuram “blogs de nicho” que consigam evitar generalidades históricas sobre um castelo, uma batalha ou um museu, focando-se, por exemplo, em pequenas estórias a elas associadas que cativem um público cada vez mais exigente, que quer compreender as vicissitudes da nossa História e adquirir informação complementar.

Castelo de Aguz (Marrocos) © Blog OLIRAF

Em 2011 criei o blog OLIRAF, com o intuito de divulgar os castelos de Portugal através do meu olhar fotográfico. Cinco anos depois, o projeto evoluiu para um conceito relacionado com a escrita e fotografia de viagens, que inclui sempre experiências de Turismo Histórico-Militar.

A minha experiência em Turismo Militar permite-me conhecer o nicho de mercado, atraindo, assim, mais leitores através de informação apelativa, criativa, de fácil e rápida leitura. Isto é fundamental para garantir uma diferenciação na blogosfera [leia-se também Blog de Nicho: o segredo para se destacar no meio da multidão].

Esta especialização tem permitido a colaboração com diversas entidades, nomeadamente grupos de recriação (Guerrilha de Montagraço), empresas de animação turística (Mystical Trip), instituições militares (Comando da Zona Militar da Madeira), rotas (Rota Histórica das Linhas de Torres), organismos de promoção turística (Turismo do Algarve e Centro) e municípios (Melgaço).

Outros convites surgem, em resultado desta aposta. Recentemente fui orador no II Painel do Seminário Online de Turismo Militar 2020, sob o tema Turismo Militar e Inovação: Marcas e Produtos (gravação integral disponível aqui).

Forte de São João Baptista da Ilha da Berlenga © Blog OLIRAF

O objetivo central do blog é dar a conhecer a História Militar de Portugal, através de experiências lúdicas e culturais, alertando, ao mesmo tempo, para a questão da salvaguarda patrimonial, promovendo o conhecimento da nossa própria região e a participação em eventos culturais.

Os bloggers são hoje fundamentais para a divulgação, promoção e preservação do património, mais especificamente do Turismo Histórico-Militar de uma determinada região ou concelho.

Isto porque conseguem chegar a um público que procura qualidade e diversidade de conteúdos relacionados com o património cultural, e quer conhecer as diversas experiências, materiais e imateriais, a eles associadas. Veja-se, por exemplo, o caso da aposta no Enoturismo ou das caminhadas associadas a uma determinada rota.

O Turismo Militar veio para ficar e existem fortes razões para o praticar em Portugal! O grande desafio que se prevê para este segmento do turismo cultural é conseguir captar a atenção, para que seja mais acessível, útil e suscite a curiosidade pelo património histórico-militar.

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Rafael Carvalho de Oliveira
Rafael Carvalho de Oliveira

Rafael Oliveira é o autor do Blogue OLIRAF. OLIRAF concilia o gosto pelas estórias da História, da Fotografia e das Viagens. É um "travel blogger" que presta uma atenção muito especial ao património histórico-militar.

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