Viajante e homem de causas: Rui Barbosa Batista (entrevista)

O ciclo de entrevistas aos fundadores da ABVP continua com o Rui Barbosa Batista, vimaranense de nascimento e portuense de coração.

O Rui é um jornalista com o raro dom da escrita. Mais importante ainda, alguém que, através das suas crónicas, dá voz aos mais frágeis e desprotegidos. Um homem de causas, portanto.

Nome: Rui Barbosa Batista

Profissão: Jornalista

Data de nascimento: 1970

Local de nascimento: Guimarães

Local de residência: Porto

Próximas viagens: Irão, Cabo Verde, Bielorússia, Guiné Bissau, Gâmbia, Hungria, México e Guatemala

Blog: Born Freee

1. O que significam as viagens para si?

Muitas coisas, nem sempre fáceis de traduzir. Desde logo a procura da satisfação da eterna curiosidade que me ‘persegue’. Mais do que ler sobre os lugares, história, pessoas ou situações, prefiro experienciá-las, usando a plenitude dos sentidos para absorver a realidade. Não sou de ideias pré-concebidas: prefiro confrontar o adquirido. Viajo pela vontade de conhecer, pela paixão de explorar, pela necessidade de saber. Gosto de me desafiar, de enfrentar o desconhecido e enriquecer os meus dias com todo o tipo de experiências.

É também um modo de relaxar, um renovar de energias para um quotidiano que, por norma, é intenso e exigente. A melhor forma de valorizar tudo o que me espera cá.

2. Entre os destinos que já visitou, há algum que o tenha marcado de forma especial? Conte-nos.

Essa é difícil, pois todos me marcaram e muitos dos mais de 100 países visitados fizeram-no de forma especial. Acima de tudo, aprendi a importância de sermos humildes e tolerantes. De nos sabermos colocar na pele do ‘outro’. Nas suas vivências, na sua história. O refinar da ética e moral, uma ainda maior atenção aos valores humanos completam o ramalhete. Se isso não acontecer… algo de errado se passa… connosco.

Sem me alongar a especificar os motivos, e sem qualquer ordem predileta, destaco a Colômbia, Guatemala, Argentina, Etiópia, Sudão, Argélia, Irão, Birmânia, Nepal, Austrália, Nova Zelândia…

3. O que mais o influencia na hora de escolher um destino de viagem?

A novidade. Tenho repetido várias vezes destinos que gosto. Contudo, é a novidade que mais me atrai. Tenho predileção pelos países menos desenvolvidos e pelas realidades mais duras. Sim, sinto-me confortável no ‘caos’. Aprecio desafios. E onde tudo é mais bruto, genuíno. Também gosto de variar e ir alternando continentes, para sentir mais profundamente as diferenças entre cada país. 

4. Já viveu fora de Portugal mais que seis meses? Se sim, onde e o que retirou dessa experiência?

Nunca estive fora mais de dois meses seguidos. Felizmente, não tive de emigrar. Uma das melhores partes das viagens é precisamente quando regresso a casa. ADORO voltar ao lar. À cidade que tão bem me adotou – um vimaranense no Porto -, ao meu país…

5. Explique o que é o seu blog de viagens e a razão da sua existência.

O BORNFREEE nasceu da preguiça. Em viagem, tinha inúmeros emails de amigos que perguntavam o mesmo. Certa vez, enquanto descia África, um companheiro de jornada desafiou-me a relatar em texto as nossas aventuras: ele trataria do blog e da fotografia. Resultou!! Poucos emails a questionar-me e ficou um registo fantástico da aventura, que serve para memória futura (com tantas viagens, não há melhor forma de as eternizar).

Após cinco viagens e outros tantos blogs, os meus amigos chatearam-se e ‘obrigaram-me’ a juntar tudo num só projeto. Fiz-lhes a vontade. Existe para memória futura. Para partilha com os amigos. Para inspiração de todos os que gostam de viajar de forma genuína, contando várias das minhas experiências mais interessantes.

Este blogue será dos poucos que não faz roteiros nem dá dicas de qualquer espécie – há vários a fazê-lo, e muito bem – pois, tendo em conta a minha forma de viajar, isso não faz qualquer sentido.  

6. Como surgiu o nome do blog?

Uma vez trouxe do Canadá uma t-shirt com um alce a conduzir uma Harley Davidson com a frase “Born Free”. A minha irmã mal a viu atirou: “é a tua cara”. Decidi apostar no nome. Quando vi que estava já ‘tomado’, inconformei-me. Como? Acrescentei-lhe um “e”, aumentando assim a liberdade 😊 Daí o Born Freee. Sinto-me livre em todos os aspetos da vida. Não vejo que melhor nome poderia vestir o meu projeto.

7. Destaque um dos posts de que mais gosta no seu blog e explique porquê.

Essa é difícil… muito, muito complicada. Como tal, prevaricarei ao indicar mais do que um, sendo sucinto na justificação.

Destaco o post sobre a viagem a Kibera, a maior favela de África. Um mergulho numa realidade chocante, dura, mas que importa divulgar. Viajar é envolvermo-nos em todo o tipo de realidades, incluindo as dolorosas.

Um outro post que prova que a linguagem universal não precisa de uma só palavra. Como um momento único, belo e intenso pode ser protagonizado sem uma única palavra em comum.

Destaco ainda um texto que diz respeito à única vez, que me tenha apercebido, em que estive perto da morte. Uma experiência singular… fechando os olhos, ainda recordo aqueles momentos. Um alerta para o ‘facilitismo’ em viagem.

Não posso deixar de parte um dos últimos artigos, pois foi dos mais difíceis de escrever: a experiência num duro campo de refugiados Rohingya.

8. Alguma dica para quem pretende começar agora um blog de viagens?

Que se dedique a aperfeiçoar as suas capacidades que lhe permitirão um dia inspirar os outros. Traduzindo, que domine a riqueza linguística do português, pois as palavras permitem-nos emoções e sentimentos ímpares. Que apure o olhar fotográfico sobre o Mundo (não o egocêntrico “olha-eu-no-Mundo”, mas o bem mais interessante “olha-o-mundo-como-ele-é”). Que desenvolva alguns conhecimentos sobre redes sociais. E que nunca viole a verdade, a consciência e as regras de ética naquilo que faz.

9. Que papel desempenham os blogs junto de outras pessoas que gostam de viajar?

Espero que as inspirem e motivem a viajar. Que ajudem a perder medos e preconceitos. E que contribuam para formas de viajar cada vez mais sustentáveis, altruístas e profundas.

10. Qual é o seu maior sonho por cumprir?

Redutor dizer que é explorar todos os países do planeta – desejo certamente comum a todos os que adoram viajar -, pelo que destaco o Quirguistão, sonho de infância que faço por adiar, para ir tendo destinos estimulantes no horizonte, e as Coreias, do Norte e do Sul.

Mais importante do que isso, é o sonho de que sejamos capazes de explorar o planeta sem acabar com os muitos pequenos paraísos que o povoam. Que o Mundo não vire um imenso parque de diversões monocromático ao serviço da ‘selfie’ do turista, apenas preocupado com o que pode ganhar com o destino, em vez de pensar como o pode deixar melhor do que o encontrou. Também nesta missão, o blogger de viagens tem um papel fundamental.

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Ruthia Portelinha
Ruthia Portelinha

Viajante, mãe babada, chocólatra, amante de livros e museus.
Autora do blog O Berço do Mundo.

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